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14/01/2019

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Paris, 14 de Janeiro de 1938 Ponho-me a pensar nos cinco milhões de homens que formigam nestas ruas. A pensar que, embora todas estas avenida, estas praças, estes monumentos sejam criações suas, o homem perdeu aqui, mais do que noutra parte, as rédeas da sua personalidade, consentindo que a criatura domine o seu criador. Não posso dizer ao certo por quê, mas a impressãao que se tira desta enorme multidão é de que não se trata de gente mas duma grande levada que as próprias ruas canalizam. Tem-se a impressão que a cidade actuou nela como um forte raio X, reduzindo-a a uma transparência humana que toca pelo irreal.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 61, 1941, Coimbra.

02/01/2019

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Veneza, 2 de Janeiro de 1938 Ora até que enfim, Veneza! Mas esta velha namorada está gasta. Não há corpo de mulher que resista às noitadas de vinte gerações.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 55, 1941, Coimbra.

31/12/2018

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Coimbra, 1 de Janeiro de 1943 – Outro ano. Toda a gente excitada, e, de conhecido para conhecido, esta senha:
– Boas entradas!
– Igualmente! – responde o contemplado.
E lá segue cada qual o seu caminho, com o supersticioso pé direito à frente, não vá o demo tecê-las.
A estafada e monocórdica ária de sempre, que apenas moi os ouvidos de que é por condenação um rói-migalhas, e passa o tempo a reparar nas inocências do homem, e a registá-las.
Ano Novo! Os torcegões que a realidade sofre nas nossas mãos, a ver se conseguimos disfarçar-lhe a crueza! A imaginação colectiva aos sobressaltos, na grata ilusão (na triste ilusão) de que a coisa vai começar agora, – agora que o ano é novo, a idade é nova. No fundo, todo o passado é um erro para cada um de nós. E como ninguém é capaz de aceitar corajosamente os erros e de fazer deles um roteiro de sinceridade, contorna-se o problema desta ingénua maneira: recomeçar. Sem nos querermos convencer de que nada pode deixar de ser como é, porque continuamos os mesmos e, só errado, o caminho é bonito e nos apetece. Recomeçar uma, duas, cinquenta vezes, e chegar à meta com este lamento hipócrita na boca: – Ah, se eu voltasse aos vinte anos e soubesse o que hoje sei!
Que me lembre, apenas Raúl Brandão teve a grandeza e a lealdade de escrever que repetiria o calvário da vida sem lhe alterar o itinerário. Isto sim, isto é de quem entendeu a fundo que a existência não deve ter soluções de continuidade, nem ser prevista. Deus me livre de saber que por certo beijo que roubei em rapaz a uma cachopa da minha terra receberia a bofetada que recebi! A coisa foi maravilhosa por ter sido um jogo, um atrevimento, um risco, e motivar aquela réplica inesperada e ardente!
– «Se eu soubesse…»
Mas como felizmente ninguém pode voltar atrás, nem saber antes de saber, vai de recomeçar vida nova cada novo ano. Cada novo ano que passa a velho logo que se fazem 365 tolices…”


Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pp.102-104, Coimbra Editora, 1960.

25/12/2018

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Marselha, 25 de Dezembro de 1937 Viajar não é bem como diz a Agência Cook. Aquela honrada companhia de mostrar o mundo é, sem saber, uma espécie de agẽncia funerária de uma prematura morte com guia e tudo. Viajar, num sentido profundo, é morrer. É deixar de ser manjerico à janela do seu quarto e desfazer-se em espanto, em desilusão, em saudade, em cansaço, em movimento, pelo mundo além.
Nesta hora, aqui deitado na cama dum Hotel Continental qualquer, a ouvir os passos de um milhão de pessoas na Canebière, que sou eu? Uma pura ressonãncia morta de uma vida longínqua.
Quando amanhã me erguer, ressuscitar, e for outra vez manjerico na minha terra, deste dia, desta hora, desta grande cidade, do que fui nela, que terei eu na mão? Nada, porque não foi nada aquilo que o Lázaro trouxe da sepultura.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 50, 1941, Coimbra.

19/12/2018

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Porto, 19 de Dezembro de 1943 Cá ando a arrastar os sapatos nestas calçadas graníticas. Um bonzo a cada esquina, mau gosto por todo o lado, mas é o Porto, a nossa cidade mãe, com cornos em lira e jugos lavrados de fantasia.

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 124 1954, Coimbra.

03/12/2018

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Vila Nova, 3 de Dezembro de 1935 Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade sem ao menos perguntar quem era.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 19, 1941, Coimbra.

21/11/2018

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Leiria, 21 de Novembro de 1939 Hoje em Coimbra encontrei à cabeceira da cama de um amigo, encaixilhado, o If do Kipling. Apesar do poema a meu entender ser uma espécie de grande pílula Pink para uso do Império Britânico, o facto de o ver no lugar onde costuma ficar o Cristo, enterneceu-me. Não era precisamente o povo grego arrastado pelo ritmo do Pean, mas era um homem a benzer-se de manhã com meia dúzia de estrofes. É que isto de versos vai de mal a pior. Qualquer dia, nós, os poetas, temos mesmo que pedir desculpa à vizinhança deste feio vício.
Deste vício que Camões pagou tão caro, e que dá frutos bichosos como as Coplas do Jorge Manrique a Ode à Alegria do Schiller.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 118, 1941, Coimbra.

17/11/2018

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Coimbra, 17 de Novembro de 1939 Nova ida a Conímbriga. Mas é escusado insistir. A arqueologia, levada ao caco, reduzida a uma pedra esfarelada, faz-me sentar na primeira sombra, de onde me ponho a imaginar no pó das ruínas a vida que nelas palpitou.
Foi o que hoje aconteceu. A olhar de longe aquela muralha que cortou a cidade ao meio, ocorreu-me que ela era, afinal, uma das tantas linhas Maginot que esta velha humanidade tem construído. Mais sgnificativo que as banheiras e os mosaicos, pareceu-me o medo que fez levantar aquela cerca de pedra.
E acabei longe dali, numa abstracção: que tudo o que é realmente grande não tem muros. Que, na Idade Média, em que tanta parede se fez, só o que saíu fora das ameias ficou eterno: os trovadores e os peregrinos. A poesia e a fé.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 115, 1941, Coimbra.

11/11/2018

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Coimbra, 11 de Novembro de 1942 – (…) Dizia-me ontem um amigo francês esta tristeza: – de Camilo em diante, parece que os escritores portugueses têm as raízes fora de Portugal! E é verdade. Por desgraça, somos todos, em mísero, Anatoles, Prousts, Morgans, Valérys, ou outros igualmente grandes e igualmente alheios. Daqui, deste avaro torrão, e com a consciência profunda dele, é que ninguém quer ser. E aí temos o resultado: não, existir europeu que se interesse sèriamente pela nossa literatura contemporânea. – Para quê? – perguntava-me irònicamente o mesmo sujeito. E dava-me a resposta: – Bem vê, temos lá os originais…
Mas ninguém é capaz de fazer compreender estas singelas coisas a uns pobres de Cristo que para aí fazem prosa e verso. Enfrenizam-se na asneira, e debilitam ainda mais as virtudes particulares que, pelo que diz respeito pròpriamente a Portugal, embora brandas, são as que temos para nos salvar ou perder.”

Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 77, Coimbra Editora, 1960.

08/11/2018

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Vila Nova, 8 de Novembro de 1936 Caso, não caso, torno a casar, e acabo por concluir que a verdadeira paisagem da minha vida é uma grande serra nua.
Uma árvore a dar sombra lá do alto? Eu sei lá!
Ao sol, tenho a certeza que faço versos; à sombra, se calhar, adormeço.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 33, 1941, Coimbra.

16/10/2018

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Coimbra, 16 de Outubro de 1945 Uma cobra de água numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram já quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo já quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da ignorância. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botânicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que já foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo, esse é que possui verdadeiramente a vida e o mundo. Diante duma natureza inteira e una, também ele tinha necessàriamente de ser inteiro e uno. Sem amigos e sem vizinhos, sòzinho contra as árvores e contra as sombras, ele era uma fortaleza em si, tendo na própria pele as ameias. Que totalidade a de um ser que não pode confiar senão em si! Socialmente, seremos assim (e somos, certamente) mais fáceis de conduzir, mais úteis, mais progressivos. Mas, individualmente, a que distância estamos de um homem das cavernas! Que tamanho o dele, a caçar bisões, e que pequenez a nossa, a ganhar taças em torneios de tiro aos pombos!
O nosso gritinho de horror diante de qualquer lesma dá bem a perdição a que chegámos. Civilizámo-nos, mas à custa da nossa mais profunda integridade, dispersando-nos nas coisas que fomos desvendando.
Na cobra de hoje ninguém viu sinceramente veneno ou orte. Vimos todos, sim, o manual que aprendemos no liceu. E o estremecimento das meninas histéricas, eco delido do uivo profundo de pavor e de incerteza dos nossos antepassados, foi dum ridículo tal que respingou outros aspectos e outros recantos da existẽncia. Que espécie de sinceridade profunda, de lealdade incontroversa, haverá, por exemplo, em acreditar em Deus com a bomba atómica na mão?
É bem que o homem faça todas as experiências, inclusivamente consigo. Que liberte a energia das pedras e se liberte também a si de todas as clausuras. Mas os instintos? Poderá, na verdade, ele viver desfalcado dessa força que o fechava como um punho e lhe dava uma coesão igual à dos átomos antes de serem bombardeados? Pelo caminho que levamos, um dia virá em que tudo em nós será consciência, compreensão e sabedoria. Mas nessa mesma hora estaremos desmpregados no mundo. Todos os saberemos resolver a equação da vida na ardósia negra onde dantes eram as trevas da nossa virgindade criadora, mas talvez já não haja vida, então.

Miguel Torga, “Diário III”, pp. 129-131, 1954, Coimbra.

14/10/2018

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Coimbra, 14 de Outubro de 1945 Estes novos fazem-me de fel e vinagre, e eu reajo, claro. Mas reajo só por fora. Sou humano, e não é agradável ouvir certos assobios. Por dentro, porém, estou inteiramente com eles. Com quem hei-de estar eu, senão com quem tem a natureza pelo seu lado? Mesmo que façam maus versos e péssima prosa, eles é que têm vinte anos, é que vão trazer ao mundo a sua primavera de agora. E eu, a dizer que não, bebo-lhes as palavras, espreito-lhes os gestos, acompanho-os em todas as suas aventuras, solidário com a verdade que não sabe cantar nem descrever, mas que está espelhada na sua mocidade. Sei, de resto, que a função de uma árvore nova não é dar bons frutos, mas irradiar confiança. No pomar onde já todos os pólens se cruzaram, é ela que traz a virgindade de uma promessa. Às vezes sai cereja bichosa. Paciência. O seu corpo foi morada de uma inquietação, e, enquanto o foi, teve a flâmula azul da vida a drapejar nos seus ramos.
O facto de eu existir, é um argumento sólido para eu não abdicar; mas o facto de um jovem existir ao meu lado, é um argumento para uma conclusão mais sólida ainda: que a própria vida não abdicou, e que é preciso ser-lhe fiel, acompanhando-a na sua esperança..

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 128, 1954, Coimbra.

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Coimbra, 14 de Outubro de 1942 – (…) Vêem um pobre lírio a contar uma anedota como nunca ouviram, a segredar-lhes um piedoso galanteio como nunca nenhum namorado lhes disse, e no fim vem isto:

– Que fantástico o senhor está hoje! Nem parece poeta!


Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 69, Coimbra Editora, 1960.


10/10/2018

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Vila Nova, 10 de Outubro de 1936 Um Diário não é isto. Diário é o daquele inglês que, para que ninguém o lesse, até uma cifra inventou.
O que eu diria aqui se soubesse escrever em cifra!”

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 28, 1941, Coimbra.

26/09/2018

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Monsanto, 26 de Setembro de 1941 – … só não rezo porque não há lages para certos joelhos…”
Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 13, Coimbra Editora, 1960.

24/09/2018

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Pinhão, 25 de Setembro de 1945 Desço mais uma vez a estrada que liga as frescuras da montanha a estes calores tropicais, e novamente o velho problema da nossa incultura me começa a moer. Não pode haver no mundo coisa mais bela do que o vale do Pinhão, quando estas primeiras tintas do outono o visitam. A gente olha de cima, e não está mais na terra. Debruça-se sobre um abismo de cor, ao fim do qual dois rios se bebem com sede um do outro. Mas há uma linha decente a dizer isto, não existe uma linha decente a dizer isto, não existe uma lenda a almofodar tanta beleza, nunca um poeta por aqui passou com a lira na mão. O Reno tem castelos, tem Brentanos, tem Heines. O desgraçado Doiro tem as suas pedras descarnadas como ossos secos num deserto. Tanto vinho generoso que deu, tanta força a rasgar rochedos desde a nascente ao mar, e nada. Nem uma pintura, nem um poema, nem uma história! Suor, suor, suor, e a espadela dum barco rabelo, pesada como um lâtego, a açoitar-lhe o lombo doirado. E o pior é que a desgraça visita outros rios e outros vales da nossa terra. Sítios maravilhosos onde nunca chegou a imaginação de um artista, regatos cristalinos que nunca foram vistos por ninguém. O povo, fechado nos antolhos da sua fome milenária, só vẽ courelas e água de regar courelas. E os outros, os bem comidos e bebidos, e que por isso tinham a obrigação de uma acuidade mais ampla, jamais tiveram verdadeiro carinho por esta pátria que sugam desde que ela existe. Nem mandaram um artista passeá-la, nem eles próprios se dignaram parar a liteira no alto dum monte para olhar à volta. Vão gastar o cansaço dos servos nos cafés de Paris, certos que têm bom gosto e são pessoas civilizadas. E o nome com que designam a roça da sua grandeza, é «província». Fecha nestas palavras o seu nojo pelos piolhos e pela lepra que cultivam com um desvelo digno deles e, quando regressam, ficam-se pela Capital. Ficam-se pela Babilónia da nossa perdição, por essa Lisboa que Portugal inteiro sustenta, – enorme, monstruosas e vazia cabeça de um pequeno corpo, de tal maneira cansado de trabalhar, que nem tempo tem para olhar a formosura natural que Deus lhe deu.

Miguel Torga, “Diário III”, pp. 117-118, 1954, Coimbra.

08/09/2018

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Gerez, 8 de Setembro de 1942 – Passeio no jardim botânico. Cedros, acácias, palmeiras, eucaliptos, e tudo me pareceu mais ou menos bem. Mas de repente surgiu qualquer coisa a perturbar a harmonia. Vi melhor, e era uma Ginkgo Biloba, que estava ali, trémula, delicada, aflita, como uma deusa verdadeira num templo falso de exposição. Aterrei-me. Sou assim: diante de uma bananeira, duma araucária, ou de qualquer outra planta assim quente e distante, sinto-me em paz. No meu sangue, os Incas, os Aztecas, os Guaranis, os Hotentotes, os Senegaleses, e todas as outras raças de que a história seiscentista reza, estão de facto conquistadas. Mas, com respeito aos Japoneses, sinto que o tiro do Zeimoto não chegou. Por isso, sempre que me aparece diante dos olhos um leque ou uma árvore assim, a sugerir outra arquitectura, outra música, outra pintura e outra alma, é como se visse o demónio em pessoa diante de mim.”

Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pp. 64-65, Coimbra Editora, 1960.

05/09/2018

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S. Vicente, 5 de Setembro de 1943 Um desgraçado com a doença de Ayerza. Que tristeza deve ser ligar o nome a uma coisa destas! Sorte os astrónomos, que dão o seu a estrelas!

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 17, 1954, Coimbra.

28/08/2018

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Coimbra, 28 de Agosto de 1944 Ontem uma tarde pavorosa, com raios de quilómetros e graniso de arrátel, e hoje uma manhã calma, doce, fresca e conciliante. Uma paz tão completa em tudo, uma serenidade tão autêntica do céu e da terra, que até as próprias couves destroçadas dos quintais se esforçam para disfarçar as comprometedoras lenhaduras do corpo.
E foi esta hipocrisia da natureza que me estragou os nervos. Os coriscos, embora lhes tivesse, como sempre, um terror vergonhoso, aceitei-os; a pedra, embora uma mais desabrida me tivesse magoado, aceitei-a também. Mas este sorriso sonso do cosmos, irritou-me. Achei-o indigno de uma força que pode abanar montanhas e secar mares. Tive a impressão de que estava a ver todas as tartufices dos homens abençoadas e copiadas por Deus.

Miguel Torga, “Diário III”, pp. 79-80, 1954, Coimbra.

25/08/2018

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Gerez, 25 de Julho de 1943 Aqui apresento ao leitor benévolo o João Cantador, ou seja o Nijinski do Minho. Nasceu em Rio Calvo, nunca foi vencido em desafios de cavaquinho e de malhão, funda na Bíblia as suas réplicas, e é de verdade um bailarino extraordinário único, que só a nossa incultura consente se perca por estas serras a embebedar-se com vinho verde.

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 13, 1954, Coimbra.