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31/10/2016
16/08/2016
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“Está escrito pelos gregos antigos que quem muito se olha cega e quem muito se ouve perde a voz. A lição tem mais de mil anos e parece que é de agora. Mas, vê tu, os próprios gregos, que a escreveram em forma de fábulas e de lendas, não a souberam seguir. Eles, que eram sábios e avisados, morreram sobre o peso dos mitos que inventaram. E por mitos quero eu dizer imagens com que tentaram explicar-se fora do tempo e só para a Eternidade. Fui claro, Ritinha?”
José Cardoso Pires, Dinossauro Excelentíssimo, pág. 79, Bertrand, 1973.
José Cardoso Pires, Dinossauro Excelentíssimo, pág. 79, Bertrand, 1973.
06/12/2015
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“O
mais curioso é que talvez por não terem mulheres ou por andarem cheios
de medo dos professores, se vingavam constantemente uns nos outros,
rasgando capas à tesourada, rapando o cabelo aos mais fracos, fazendo
trinta por uma linha. Nessas ocasiões soltavam gritos de guerra:
«EFE-ERRE-A... FRÁ!»
«EFE-ERRE-E... FRÉ!»
«EFE-ERRE-I... FRI!»
procurando assim decorar o abecedário.
Longe, nos quintais, os que não andavam de tesoura em punho cantavam para chamar mulher. E, Jesus, era de arrepiar. Ouvia-se a guitarra: gemia tremidos, miudinha, ouvia-se a voz: tinha trinados de ave capada, toda mel e lua cheia. Estava-se, escusado será dizer,
NA CIDADE DOS DOUTORES”
«EFE-ERRE-E... FRÉ!»
«EFE-ERRE-I... FRI!»
procurando assim decorar o abecedário.
Longe, nos quintais, os que não andavam de tesoura em punho cantavam para chamar mulher. E, Jesus, era de arrepiar. Ouvia-se a guitarra: gemia tremidos, miudinha, ouvia-se a voz: tinha trinados de ave capada, toda mel e lua cheia. Estava-se, escusado será dizer,
NA CIDADE DOS DOUTORES”
José Cardoso Pires, “Dinossauro Excelentíssimo”, pág. 22, Liv. Bertrand, 1973.
04/12/2015
...
“As
mil-maravilhas duma viagem ao reino do Mexilhão em comboio-fantasma!
Monstros,
almas penadas, múmias pré-históricas e outras teias de aranha de
primeiríssima fancaria (paridas pelo Grande Sono da Razão)!
Cadáveres
esquisitos! Videntes à tarefa! Fuças medonhas! Broncossáurios!
Caixöezinhos
de surpresas!
Sustos
pele-de-galinha e cabelos-em-pé!
Organizadas
manifestaçöes espontâneas! Pedintes Voadores (sem rede)!
Discursos
em Gótico Ornamentado! Medalhas Comemorativas!
Marchas
típicas, procissöes e outras cívicas manifestaçöes de notáveis
e mexilhöes!
(trajo
de fantasia)
RIR! RIR! RIR!
(fornecem-se
dentaduras postiças)
INACREDITÁVEL
Uma
câmara de torturar palavras. Um computador maluco!
Uma ilha que se transforma em duas casa! Uma camioneta do feitio de
um burro (eminentemente bíblico)! Um mostrengo que está no fim do
mundo e que morre e ressuscita só para morrer de vez em estátua!
LEILÄO
DE ANTIGUIDADES!
(trajo
de cerimónia)
KOLOSSAL!
ESTRITAMENTE PRIVADO!
Romagem
à cartilha do Superdoutor (ou Doutor-entre-os-Doutores, ou
Doutor-por-todos-os-lados), o Excelentíssimo Imperador Dinossauro
Primeiro, o Bicho-Que-Devora-Palavras!
Excursão
à Torre das Sete Chaves, à estátua de bronze, à vírgula caseira,
à sala das torturas linguísticas, à amnésia fatal tudo lugares
RIGOROSAMENTE HISTÓRICOS!
(trajo
de luto)
FIM
DE FESTA! DANÇAS NO ARAME! COMES-E-BEBES (PELA MEDIDA GRANDE)!
DISCURSOS AO DESAFIO! GRANDES MANOBRAS! LEMBRANÇAS REGIONAIS PARA OS
HOMENS DE AMANHÄ E
MASCARADAS DE MEXILHÖES PARA OS CADÁVERES-ADIADOS DE HOJE!
(Todos
os dias, novas viagens do comboio-fantasma)
Visita guiada à Fábrica dos Doutores, primeira
indústria do Reino!
Grandiosos Ventos Históricos! Turismo ao Pó da
Sonolência e ao Tanto-Faz-Como-Fez!
Folheto especial para se entender a língua da
Comarca, o código democraticamente secreto de sinais convencionais!
(Para
ler nas entrelinhas)”
VITOR SILVA TAVARES
(nas
Badanas de “Dinossauro Excelentíssimo” de José Cardoso Pires,
5.ª ed., Livraria Bertrand, 1973.)
06/08/2013
Da «Cartilha (M/F)aternal»...
“Marialva é o antilibertino
português, privilegiado em nome da razão de Casa e Sangue, cuja configuração
social e intelectual se define, nas suas tonalidades mais vincadas, no decorrer
do século XVIII.
No convencionalismo popular (ou
antes pequeno-burguês) marialva é o fidalgo (forma primitiva de «privilegiado»)
boémio e estoura-vergas. Socialmente será outra coisa: um indivíduo interessado
em certo tipo de economia e em certa fisionomia política assente no
irracionalismo.”
José Cardoso Pires, “Cartilha do Marialva - ou das negações
libertinas”, Editora Ulisseia, p.9, Lisboa, 1967.
“Por sua vez, a Política e a
Administração, perdendo o estímulo da crítica activa, desligam-se gradualmente
do cidadão, irresponsabilizam-no. Passam a construir uma actividade de
clientelas que procuram formas de manutenção desse equilíbrio social à custa de
soluções imediatas, de sobrevivência pelo dia-a-dia, como é uso tradicional dos
providencialistas e dos caciques locais.”
José Cardoso Pires, “Cartilha do Marialva - ou das negações
libertinas”, Editora Ulisseia, p.66, Lisboa, 1967.
“Fatalidade do tempo, a Ciência
apresenta-se como desafio irrecuperável às verdades eternas, como heresia ou
exibicionismo, aventura que tende a reduzir o homem à máquina sem alma. E a
arte como exploração pretensiosa, ou ainda: ocupação para inadaptados.
Hollywood, as biografias em série e os comic
strips distribuem esse retrato exótico do intelectual: o sábio débil e
lunático; Chopin compondo num acesso de fúria enquanto o vendaval lhe destelha
a casa; Van Gogh, o pintor de uma orelha por uma prostituta; Bocage, o das
anedotas e dos sonetos entre sécias.
Com isto, isola-se o intelectual
do convívio comum, recusa-se-lhe o estatuto dos valores colectivos. Melhor
dito: propõe-se-lhe uma disfarçada alienação, tolerando-a à margem e
enaltecendo-lhe as irresponsabilidades. Dá-se-lhe o lugar dos predestinados ou
a condescendência dos ingénuos semiloucos – e fica defendida a sociedade de
ideias pelo menos ociosas. E simultâneamente «eternizada» a obra de criação.”
José Cardoso Pires, “Cartilha do Marialva - ou das negações
libertinas”, Editora Ulisseia, p.105, Lisboa, 1967.
“Com tantas facetas e quase
sempre genialmente expostas, Fernando Pessoa projectou o seu desejo de
universalidade com ideias que permitiram explorações posteriores da parte dos
pensadores menores que lhe sucederam. O irracionalismo dos passadistas soma D.
Sebastião ao Supra-Camões e monta a sua interpretação providencialista da
História. Daqui a uma teoria natural das elites («os génios de nascença») é um
salto minúsculo e, vai não vai, está declarada a divinização do poder, a
aceitação dos predestinados.
Agora, sim, pode falar-se da «missão do Estado que opõe obediência ao
espírito de revolta e a renúncia à ambição» e estende-se esta palavra de ordem
colectiva à manutenção da ordem doméstica. Bem entendido, Pessoa não foi tão
longe. Mas nas viagens e contraviagens que fez no domínio da especulação deixou
muitos sinais que os integralistas e outros aproveitaram como padrões de honra
na sua restauração do Portugal Antigo.”
José Cardoso Pires, “Cartilha do Marialva - ou das negações
libertinas”, Editora Ulisseia, pp.186-7, Lisboa, 1967.
21/02/2013
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