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03/12/2015

"Manifesto Pânico à População das Cidades"...


Não me façam partilhar da vossa fraternidade.
Cheguem para lá o vosso amor...

temei antes pela vossa pele

Quietos

não tremam não gemam não suem

Não salivem Não respirem

Silêncio

Haveis alguma vez sentido o verdadeiro Terror?
E quando crianças? No silêncio dos vossos leitos de infantes inocentes e tenros, alguma vez, audaciosamente, vos perguntastes do Tempo e da Morte?

Calem-se

Não se atrevam

não tornem a insinuar a vossa admiração, o vosso orgulho em me conhecer.


Quem sois vós?

Não vos conheço! Pudesse, embora, a cada uma das vossas formas dar um nome. Poderia até classificar-vos, ordenar-vos, organizar-vos por categorias, dar-vos uma posição, uma relação com o Universo.

Quereriam talvez que vos prestasse esse serviço: seria mais uma vez, um conforto, um descanso, um abandono, talvez até uma Paixão por mim.

Ó seres quase erectos, de sexos equívocos, de todos os sexos (anjos?), de faces amolecidas pela ausência de verdadeiros vícios ou virtudes, que, às vezes, por perigosos instantes, vos iluminais para adquirir feiçöes e corpos quase humanos, livrai-me da vossa companhia.

Protegei a vossa Inocência, a vossa impotência em verdadeiramente vos exaltardes, livrai-vos principalmente de conhecer o exercício obcessivo das actividades infames: o mal, a inteligência, a premeditação de crimes.

A vossa alegria quotidiana e pública, enjoa-me e repetidamente me faz vomitar.

Há milénios que urdo projectos silenciosos e obscuros: o homicídio, um qualquer homicídio redimir-me-ia.

Em breve precisarei de uma arma.

João Damasceno in Pravda 3, ed. Fenda Ediçöes, Outubro de 1985.

Capa: Zepe