UM LABREGO EM NOVA IORQUE
Algumas meditações de Mickey M.
sobre a moralidade Yanquee
– O polvo e o ornitorrinco
Ernesto o ornitorrinco honesto passa debaixo do apartamento do bruto Sharkey, o polvo.
– Ó polvo, diz o ornitorrinco, eu gostava de ser invertebrado como tu...
– Puet! Replica o polvo com tédio.
Moral:
TILT !!
UM LABREGO EM NOVA IORQUE (versão B)
Um labrego em Nova Iorque? Quem pode captar a labiríntica maravilha desta frase? Qual o sortilégio alquímico? Que pode (na mente do público) estabelecer o contacto entre o significante e o significado? Um signo? Pois é precisamente neste ponto que nos vai falar o dr. X (como preferiu apresentar-se um homeostético homeotípico):
– «É preciso criar um mito!»
Seremos nós os assumidores e eternos defensores desta causa que é a poesia hábil, bem feita e prometaica? (e para uma situação idêntica, se bem que situada noutra dimensão, advinham-se as nobres «Farpas» do nosso saudoso Eça).
Qual a razão de ser de tudo isto?
é bélico
é profético
é feérico
é mítico
é mirífico
é magnífico
é quimérico!
(…)
As autostradas cruzam-se como esparguete, e os belos edifícios nauseantes abrem-se ao chegar ao chão. Dentro de um elevador uma menina devora um espelho. É o regresso à labuta de cada dia!
Os caboverdianos fazem competição de escarros verdes. A omoplatina ficou desmaiada de tanto tempo apaixonada como um serrote! Um serrote? É um símbolo, como um pente de cabo de tartaruga.
Ao diabo as majorettes! E o nosso amigo come um hamburguer no Pimp's. A servente tem umas mamas extraordinárias e o meu bigode ensebado de molho de tomate. A selva! O labirinto! As ruas e os subterrâneos! Que bela cidade! Num canto um grupo de porcos devora uma roda dentada.
As veias no rosto do cavador de enxada parecem saltar como fogo de são Telmo. O homem maneja com desespero a sua centrifugadora, tudo para fazer sumo de cenoura as gaivotas perdem pêlo e a cidade adquire tonalidades purpurinas. Um garrafão desliza pesadamente sobre o plástico quitchinéte e o mickey mouse pausa as palavras que pedem, em rumores, as baratas na concertina.
(…)
(arrastando:)
mas para quê desvendar
a boa obra (de art)
se tal coisa é desventurosa
(ou mesmo)
só aconselhada aos consagrados
poetas (os eternos)
é moderno
é desusado
é pandeireta
é pato assado (1)
(1) – festas homeofrenéticas de um deboche lúcido, lânguido, calmo e feroz
Pretendemos, com a embriaguez do nosso lúcido discurso, comprometer irremediavelmente a alma impura do vulgar observador de art e a condescendência do POVO (sentimento artístico animal).
Cada obra deverá ser para o estimado indivíduo público um espelho de Alice.
Acalentamos a esperança... qual esperança!!!... certeza!!! que esta quixotesca família engordará e se transformará em Baccus e de Baccus em Saturno e de Saturno em etc e finalmente (em Esculápio) no todo poderoso Zeus!
Crêdes, consagrado público, que a nossa cruel ânsia se tornará, como tudo, em sócia da eterna cloaca nacional?
Não, portuguezes!
pois nós somos os nossos próprios
deuses!
Fernando Brito e Manuel João Vieira, “Portugal Alcatifado Canções Anormais”, pp.76-8, &etc, 2012.
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31/10/2015
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