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Roger Vailland |
“Nada
é mais oposto ao libertino
do que aquilo a que chamamos o femeeiro ou
pinga-amor.
Tal
como a
vítima do amor-paixão, o femeeiro
é escravo de uma obsessão. Qualquer que seja a «pessoa do sexo»,
a perspectiva vagamente entrevista de um consentimento basta para
provocar nele esta mobilidade dos humores, esta fermentação
glandular, esta subversão orgânica total que metamorfoseia a maior
parte das espécies animais em vésperas de acasalamento e que
arranca as enguias aos pântanos das estepes para as núpcias
fabulosas que decorrerão no mar dos Sargaços.
Mesmo
quando julga possuir, o femeeiro é possuído. Isto porque a sua
perpétua sofreguidão o inclina para o mais fácil. Os trabalhos de
aproximação que impõe o cerco da virtude
exasperam a sua impaciẽncia. Como aqueles conquistadores que só
atacam as nações minadas por lutas intestinas, ele toma apenas as
praças fortes que desejam ser conquistadas.
O
libertino, pelo contrário, escolhe. É a ele que convém o epíteto
difícil que a
linguagem corrente outorga às virtudes
obstinadas. Ele é tanto mais difícil
quanto o seu gosto está mais completamente educado. É na severidade
da sua escolha que reside a virtude
que lhe é própria.”
Roger
Vailland, “Esboço Para Um
Retrato do Verdadeiro Libertino”, pp. 16-17, &etc, Lx,
1976. trad. Vitor Silva Tavares.
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Roger Gilbert-Leconte, Roger Vailland, René Daumal et Robert Meyrat |