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26/12/2018

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 “No ano de 2047 o amor-paixão parecerá, segundo toda a verosimilidade, tão antiquado como o cristianismo. «Amo-te» deixará de ter esse odor confessional, esse bafio de bruxaria medíocre.”
Roger Vailland, “A Roda da Fortuna”, Pág. 173, Editora Ulisseia, Lisboa, 1961.

07/07/2018

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Roger Vailland
“Nada é mais oposto ao libertino do que aquilo a que chamamos o femeeiro ou pinga-amor.
Tal como a vítima do amor-paixão, o femeeiro é escravo de uma obsessão. Qualquer que seja a «pessoa do sexo», a perspectiva vagamente entrevista de um consentimento basta para provocar nele esta mobilidade dos humores, esta fermentação glandular, esta subversão orgânica total que metamorfoseia a maior parte das espécies animais em vésperas de acasalamento e que arranca as enguias aos pântanos das estepes para as núpcias fabulosas que decorrerão no mar dos Sargaços.
Mesmo quando julga possuir, o femeeiro é possuído. Isto porque a sua perpétua sofreguidão o inclina para o mais fácil. Os trabalhos de aproximação que impõe o cerco da virtude exasperam a sua impaciẽncia. Como aqueles conquistadores que só atacam as nações minadas por lutas intestinas, ele toma apenas as praças fortes que desejam ser conquistadas.
O libertino, pelo contrário, escolhe. É a ele que convém o epíteto difícil que a linguagem corrente outorga às virtudes obstinadas. Ele é tanto mais difícil quanto o seu gosto está mais completamente educado. É na severidade da sua escolha que reside a virtude que lhe é própria.”

Roger Vailland, “Esboço Para Um Retrato do Verdadeiro Libertino”, pp. 16-17, &etc, Lx, 1976. trad. Vitor Silva Tavares.

Roger Gilbert-Leconte, Roger Vailland, René Daumal et Robert Meyrat

01/11/2014

“Entre 1904 e 1914, entre os seus vinte e trinta anos, viajara nas férias universitárias por toda a Europa a fim de rematar a educação, segundo o desejo do pai. Voltando certo Verão de Londres para em Valência embarcar rumo a Nápoles, demorou-se alguns dias em Portugal. Fizera a si mesmo mil perguntas sobre o declínio desta nação cujo Império se alargara a todo o globo. Conheceu escritores que não escreviam para ninguém; homens políticos que governavam para os ingleses; homens de negócios que liquidavam as feitorias do Brasil e viviam de rendas exíguas nas cidades da província, sem qualquer objectivo. Concluiu que a pior das desgraças era nascer português. Em Lisboa e pela primeira vez na vida travara encontro com um povo que se tinha desinteressado.”


Roger Vailland, "A Lei", 1.ª ed., 1957.