Alberto de Lacerda (1928-2007)
ROBERT BRESSON
E súbito
No meio de partículas
Fortíssimas
Do mal
Surgiram as mãos honestas
Da mulher arrancando
Batatas
Da terra
A bondade sem medo
Da velha que se deixa acompanhar
Do jovem assassino
Até à pouco
Inocente
Dois desconhecidos
Olhar profundo
Entre mãe e filho
Que não são
São dois desconhecidos
Que o acaso aproximou
Há dias
Arrancando juntos
Batatas
Da terra indiferente
Londres, 19 de Janeiro 1991 in "Átrio", Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p.102, 1997.
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Elefante
Não me aparecera ainda num poema
E surge a tromba
É um começo
Londres, 23 de Janeiro 1991 in "Átrio", Imprensa Nacional - Casa da Moeda, p.103, 1997.SETE POEMAS
Só ficarão talvez sete poemas
De toda esta agonia caos e luto
(Amor eterno a que negaram fruto,
Não por estéril, mas por ínvias penas);
As alegrias grandes e pequenas,
Não do amor sòmente, rosto enxuto,
Foram raras, foi alto o seu tributo;
Secou a angústia as lágrimas serenas.
Fome, fome de pão, fome de amor,
Quebrou-me o píncaro de plenitude
A que só raro ergui asas de alvor.
Versos puros em vez de juventude?
Antes a vida, a luz o seu esplendor.
Versos? Paguei-os. Agonia e luto.
Alberto de Lacerda in "Exílio", Portugália, pp.94-95, 1963.BIBLIOGRAFIA
1955 - 77 Poemas
1961 - Palácio, ed. Delfos.
1963 - Exílio, Portugália Editora.
1969 - Selected Poems
1981 - Tauromagia
1984 - Oferenda I, INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda.
1987 - Elegias de Londres, INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda.
1988 - Meio-dia
1991 - Sonetos
1994 - Oferenda II, INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda.
1997 - Átrio, INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda.
2001 - Horizonte, INCM-Imprensa Nacional Casa da Moeda.