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03/01/2019

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Em suma, na imensa maioria da sociedade portuguesa não se formou um carácter cívico em harmonia com a vida moderna e fez-se todo o possível para destruir o carácter cívico antigo. Desta deficiência educativa, o sentimento de vida nacional não evoluiu normalmente e resulta um sentimento, desvirtuado em parte, em parte incompleto.”
Manuel Laranjeira, “Pessimismo Nacional”, pp.28-9, Contraponto, 2.ªed., Lisboa, 1985.

Porque afinal todos os actos do povo português não são actos de quem agoniza, são actos de quem não sabe, não são escabujos de povo exausto, são actos todos derivados da sua profunda ignorância. Pois que queriam que fizesse um povo que nem sequer sabe ler? Queriam talvez que esse povo fosse resolver a questão social? Queriam talvez que ele se interessasse pelos vastos problemas da filosofia social e se apaixonasse pelos transcendentes ideais da justiça, tal como a concebe e teoriza o homem moderno?”
Manuel Laranjeira, “Pessimismo Nacional”, pág. 37, Contraponto, 2.ªed., Lisboa, 1985.

Não; não é necessário recorrer à hipótese inconsciente da degenerescência colectiva, nem a factores antropológicos, mais duvidosos ainda, para explicar o pessimismo nacional. Este nosso doloroso mal-estar ainda não é o paroxismo duma raça decadente, ainda não é o crepúsculo dum Povo. O nosso pessimismo que dizer apenas isto: que em Portugal existe um povo, em que há, devoradas por uma polilha parasitária e dirigente, uma maioria que sofre porque a não educam e um minoria que sofre porque a maioria não é educada.”
Manuel Laranjeira, “Pessimismo Nacional”, pp. 40-1, Contraponto, 2.ªed., Lisboa, 1985.

04/08/2015

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Voyelles

A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,

Golfes d’ombre ; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs , frissons d’ombelles;
I, pourpres , sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;

U, cycles, vibrementes divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d’animaux, paix des rides
Que l’alchimie imprime aux grands fronts studieux;

O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
― O l’Oméga , rayon violet de Ses Yeux!

Arthur Rimbaud, 1871

RIMBAUD, Arthur. Poésies complètes. Paris: Librairie Générale Française, 2009.
CAMPOS, Augusto. Rimbaud Livre. São Paulo: Perspectiva, 1992. Programação visual: Augusto de Campos e Arnaldo Antunes (Col. part.).



Escreve João de Deus:

    Quer-se aprender a ler? Por onde se há-de começar, por letra manuscrita ou tipográfica?
    A grande multiplicadora da palavra é a imprensa; de certo que pela letra tipográfica. Que letra, redonda, grifa ou gótica? Decerto pela mais frequente, que é a redonda. Mas, todo o abecedário é duplo: maiúsculo ou minúscula? Pela mais frequente, que é a minúscula. E todo o alfabeto minúsculo ao mesmo tempo? De que servem a um principiante 25 letras? Não só do que servem; como se aprendem 25 letras? Se em cada dia me mostrarem uma letra, em 25 dias posso saber 25 letras; mas, se em 50 dias me mostrarem simultâneamente 25 letras, é mais do que provável que eu não chegue a distinguí-las todas.
    Logo, dessas 25 letras, escolham-se as principais. As principais são as vogais.
    E poderemos nós com essas, formar palavras ou exprimir ideias ou sentimentos?
    Podemos: com a, e, i, o, u, podemos formar ai, ui, eu, ía.
    Pois bem, seja essa a nossa primeira lição.
    Restam-nos as consoantes. Havemos de nós ir pelas consoantes fora, b, c, d, etc.? Mas 7 não têm um valor independente, isto é, não têm uma pronúncia apreciável em separado. B chamamos-lhe bê, como se podia chamar Bernardo, mas o que ela significa é os lábios pegados

Manuel Laranjeira