“Timeo hominem
unius libri. Frase latina, com profundo sentido e de uma gritante
actualidade para dignificar e valorizar o livro e o escritor, e cuja
tradução para a nossa riquíssima e nunca suficiente amada Língua Portuguesa pode ser esta: respeito profundamente quem escreveu um só
livro. Hoje, embora se leia pouco e mal (mal, no sentido de não se
perceber, nem querer perceber o sentido do que o autor quis
transmitir), escrevem-se e publicam-se cada vez mais livros, e mais
revistas e mais jornais, com um enorme labirinto de títulos e um
grande emaranhado de temas, que deixam mesmo o estudioso mais atento
e bem formado envolvido numa enorme dúvida e perplexidade sobre o
seu valor e utilidade. Procura-se hoje, mais do que no passado, a
avidez doentia da modernidade, da criatividade da originalidade, da
audiência, do «bater
recordes» de edições e
vendas; tudo isto contrasta frontalmente com quem leva uma vida
inteira para deixar, para a posteridade, unica e simplesmente um
livro, que teve, como período de gestação, não nove ou doze
meses, mas dez, vinte ou trinta anos de 366 dias.
São
principalmente estes os livros e seus autores que merecem ser
prioritariamente reverenciados, respeitados e lidos por todos (…)
D.
Albino Cleto. Da
introdução de “Diálogos do Doutor Jerónimo Arraiz e de Dom Frei
Amador Arraiz Através da história da Literatura Portuguesa”de
José Maria Tapadinhas Lança. Livraria Sá da Costa Editora, 1ª
ed., 2001, Lisboa.