08/09/2018

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Gerez, 8 de Setembro de 1942 – Passeio no jardim botânico. Cedros, acácias, palmeiras, eucaliptos, e tudo me pareceu mais ou menos bem. Mas de repente surgiu qualquer coisa a perturbar a harmonia. Vi melhor, e era uma Ginkgo Biloba, que estava ali, trémula, delicada, aflita, como uma deusa verdadeira num templo falso de exposição. Aterrei-me. Sou assim: diante de uma bananeira, duma araucária, ou de qualquer outra planta assim quente e distante, sinto-me em paz. No meu sangue, os Incas, os Aztecas, os Guaranis, os Hotentotes, os Senegaleses, e todas as outras raças de que a história seiscentista reza, estão de facto conquistadas. Mas, com respeito aos Japoneses, sinto que o tiro do Zeimoto não chegou. Por isso, sempre que me aparece diante dos olhos um leque ou uma árvore assim, a sugerir outra arquitectura, outra música, outra pintura e outra alma, é como se visse o demónio em pessoa diante de mim.”

Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pp. 64-65, Coimbra Editora, 1960.

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