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22/07/2017

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De acordo com Schmitt, é um sinal de cisão interior (…) ter-se mais do que um único verdadeiro inimigo”. A firmeza de carácter não permite uma “dualidade de inimigos”. É necessário enfrentar “combatendo” o inimigo único “para se ganhar a medida de si próprio, o limite de si próprio, a figura de si próprio”. Deste modo, o inimigo é “a nossa pergunta própria enquanto forma”. Também um único amigo verdadeiro seria prova de firmeza de carácter. Schmitt diria: quanto menos carácter e menos forma se tem, quanto mais liso e polido e mais escorregadio se é, mais friends se tem.
O Facebook é um mercado da falta de carácter.”

Byung-Chul Han, “A Salvação do Belo”, pág. 62, Relógio D'Água, 2016.

20/07/2017

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"Etimologicamente, desastre significa sem estrelas (do latim des-astrum)".
 
Byung-Chul Han, "A Salvação do Belo", pág. 53, Relógio D'Água, Lx, 2016.
 
"(...) O desastre significa "estar separado das estrelas."
 
Byung-Chul Han, "A Salvação do Belo", pág. 55, Relógio D'Água, Lx, 2016.
 
"A actual calocracia, ou império da beleza, que absolutiza o saudável e o polido, elimina justamente o belo. e a mera vida saudável, que hoje assume a forma de uma sobrevivência histérica, converte-se no morto, naquilo que à falta de vida, também não pode morrer. É assim que hoje estamos demasiado mortos para viver e demasiado vivos para morrer(1)."
 
(1) certamente uma ideia retirada de Foucault no Nascimento da Biopolítica.
 
Byung-Chul Han, "A Salvação do Belo", pág. 58, Relógio D'Água, Lx, 2016.

15/03/2016

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Queremos ser realmente livres? Não teremos talvez inventado Deus para não termos de ser livres? Perante Deus, todos somos devedores em falta. Mas a dívida (die Schuld1) elimina a liberdade. Hoje os políticos acusam o endividamento como causa que limita em enorme medida a sua liberdade de acção. Se estivermos livres da dívida, quer dizer, se formos plenamente livres, teremos de agir deveras. É até possível que nos endividemos permanentemente para não termos de agir – quer dizer para não termos de ser livres nem responsáveis. Não serão talvez as dívidas elevadas uma prova de que não temos em nosso poder ser livres? Não será o capital um novo Deus que nos torna de novo devedores em falta? Walter Benjamin concebe o capitalismo como uma religião. Trata-se do “primeiro caso de um culto que não é expiatório, mas culpabilizante”. O estado de falta de liberdade perpetua-se porque não é possível liquidar as dívidas: “Uma terrível consciência de culpa que não sabe como expiar-se, recorre ao culto, não para expiar a culpa, mas para a tornar universal”2.”

Byung-Chul Han, “Psicopolítica”, pág. 17, Relógio D’Água, Lisboa, 2015.

De início, saudou-se a rede digital como um meio de liberdade ilimitada. O primeiro slogan publicitário da Microsoft – Where do you want to go today? – sugeria uma liberdade e uma mobilidade ilimitadas na web. Ora, esta euforia dos primeiros tempos revela-se hoje uma ilusão. A liberdade e a comunicação ilimitadas transformam-se em controle e vigilância totais. Também os meios de comunicação sociais são cada vez mais equiparados a pan-óticos3 digitais que vigiam e exploram impiedosamente o social. Mal acabamos de nos libertar do pan-ótico disciplinar, eis que entramos num outro, novo e ainda mais eficaz.
Os reclusos do pan-ótico benthamiano eram isolados com intuitos disciplinares e não se lhes permitia que falassem com os outros. Os residentes do pan-ótico digital, em contrapartida, comunicam intensamente uns com os outros e expõem-se por sua iniciativa. Participam activamente na construção do pan-ótico digital. A sociedade do controle digital procede a um uso intensivo da liberdade. Só é possível graças a uma exibição e uma exposição próprias de carácter voluntário. O Big Brother digital trespassa o seu trabalho aos reclusos. Assim, a transmissão dos dados não ocorre devido à coacção, mas por necessidade interior. Tal é a eficácia do pan-ótico.”

Byung-Chul Han, “Psicopolítica”, pág. 18, Relógio D’Água, Lisboa, 2015.


O neoliberalismo transforma o cidadão em consumidor. A liberdade do cidadão cede ante a passividade do consumidor. O votante, enquanto consumidor, não tem um interesse real pela política, pela configuração ativa da comunidade. Não está disposto nem capacitado para a ação política comum. Limita-se a reagir de forma passiva à política, protestando e queixando-se, do mesmo modo que o consumidor perante as mercadorias e os serviços que lhe desagradam. Os políticos e os partidos também seguem esta lógica do consumo. Têm de fornecer. É assim que se degradam em fornecedores que têm de satisfazer os votantes enquanto consumidores ou clientes. (..) A reivindicação da transparência pressupõe a posição de um espectador que se escandaliza. Não é a reivindicação de um cidadão com iniciativa, mas de um espectador passivo.”

Byung-Chul Han, “Psicopolítica”, pp. 19-20, Relógio D’Água, Lisboa, 2015.


Todos os dispositivos e todas as técnicas de dominação engendram objetos de devoção que são introduzidos tendo em vista submeter. Que materializam e estabilizam a dominação. “Devoto” significa “submisso”. O smartphone é um objecto digital de devoção, ou até mesmo um objecto de devoção do digital em geral. Enquanto aparelho de subjetivação funciona como o rosário, que é também, no seu manejo, uma espécie de telemóvel. Um e outro servem para o exame e o controle de si. A dominação aumenta a sua eficácia ao delegar em cada um a sua vigilância. O Gosto é o ámen digital. Quando clicamos no Gosto, submetemo-nos a uma estrutura de dominação. O smartphone é não só um aparelho de vigilância eficaz, mas também um confessionário móvel. O Facebook é a igreja, a sinagoga global (literalmente, a congregação) do digital.”

Byung-Chul Han, “Psicopolítica”, pp. 21-2, Relógio D’Água, Lisboa, 2015.

1 Die Schuld tanto pode traduzir-se por “culpa” como por “dívida” (N.T.)
2 W. Benjamin, “Kapitalismus als Religion”, em Gesammelte Schriften, tomo IV, Frankfurt, 1992, p. 100.
3 Esta aqui é mais uma prova da imbecilidade do novo acordo ortográfico. Agora panóptico é “panótico” mudando completamente o sentido da vista para a ouvidos. (RAR)