Auguste Roquemont
Há 13 horas
6
chama-se Tim
o homem
em exposição no museu
e adormece
depois do intervalo
do almoço
acorda-o
o vigilante
há um potencial comprador
que o quer ver
e ele acorda e
estende a língua
mas o interessado
não quer a língua
manda baixar as calças
quer ver o acabamento
da tatuagem das costas
que por morte do homem
é o que está à venda
com a pele das ditas
assim reza o contrato
talvez hoje ainda não
amanhã poderão ser milhões
para os artistas
Tim
o que forneceu
e Wim
o que adquiriu
grande gesto
aquela tela viva
que agora expõe no
L’
ouvre
mas ouvre o quê
a arte abriu
nos graffiti das cavernas
como abre
nos muros de hoje
nos museus
estão bens
da economia financeira
nem âme vivante
se além da pele
abrirem a cabeça destes dois
encontram um neuromealheiro
em forma de neuroporca
recém-parida
está bem
a arte de museu
foi até há pouco
carne à venda
por que não há-de sê-lo
outra vez
Alberto Pimenta,
“De Nada”, pp28-29, Boca – palavras que alimentam,
Lda., 2012.
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info da expo:
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