(*)"O mais triste dos homens". Foi o que Plínio, o Velho, chamou a Tibério na sua enciclopédia Naturalis Historiæ
Velhos livros Garnier bilingues latim-francês tornados penugentos pelo uso, a idade, o sol, o pó.
Li num desses velhos livros das edições Garnier que o imperador Tibério exigia – para guardar os rolos de imagens pornográficas que coleccionava – cilindros inteiramente amarelos e desprovidos de titulus a fim de que nada traísse a curiosidade que o obcecava.
Errava no império a que fugia.
Imperador desprezado, bicho-do-mato, detestando as cidades, que não queria império nenhum, que matou Deus, que fugiu da própria Roma.
Preferiu viver no mais alto de Capri, à sombra da rocha a pique sobre o mar.
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Viver escondido – late
– dizia Lucrécio.
Larvatus, dizia
Descartes.
Pascal Quignard, “As Sombras Errantes – Último reino”, pp.
8-9, Gótica, Lisboa, 2003.
Trad. Maria da Piedade Ferreira.