“Um Homem que encontrou um Leão no seu caminho decidiu dominá-lo
com o poder do olho humano. Por ali perto estava uma Cascavel a
tentar hipnotizar um pardalito.
– Estás a safar-te, irmão? – perguntou o Homem ao outro
réptil, sem tirar os olhos do Leão.
–
Às mil-maravilhas – retorquiu a serpente.
–
O êxito está assegurado: apesar de todos os seus esforços, a minha
vítima aproxima-se mais e mais.
–
E a minha, apesar dos meus, aproxima-se cada vez mais. Achas que está
tudo a correr bem?
–
Se achares que não – respondeu o réptil o melhor que pôde, com a
boca cheia do pardal –, o melhor é desistires.
Meia hora depois, o Leão, palitando pensativamente os dentes com as
garras, disse para a Cascavel que nunca, ao longo da sua vasta
experiência de ser dominado, conhecera um domador com tanta
determinação em desistir. – Mas – acrescentou com um largo e
significativo sorriso – nunca deixei de o olhar fixamente.”
Ambrose
Bierce, “Esopo
Emendado & Outras Fábulas Fantásticas”, pp. 26-7, Antígona,
LX, 1996.