“Coimbra,
11 de Novembro de 1942 – (…) Dizia-me ontem um amigo francês
esta tristeza: – de Camilo em diante, parece que os escritores
portugueses têm as raízes fora de Portugal! E é verdade. Por
desgraça, somos todos, em mísero, Anatoles, Prousts, Morgans,
Valérys, ou outros igualmente grandes e igualmente alheios. Daqui,
deste avaro torrão, e com a consciência profunda dele, é que
ninguém quer ser. E aí temos o resultado: não, existir europeu que
se interesse sèriamente pela nossa literatura contemporânea. –
Para quê? – perguntava-me irònicamente o mesmo sujeito. E dava-me
a resposta: – Bem vê, temos lá os originais…
Mas
ninguém é capaz de fazer compreender estas singelas coisas a uns
pobres de Cristo que para aí fazem prosa e verso. Enfrenizam-se na
asneira, e debilitam ainda mais as virtudes particulares que, pelo
que diz respeito pròpriamente a Portugal, embora brandas, são as
que temos para nos salvar ou perder.”
Miguel
Torga, “Diário
II” 3ª ed. Revista, pág. 77, Coimbra Editora, 1960.
Sem comentários:
Enviar um comentário