11/11/2018

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Coimbra, 11 de Novembro de 1942 – (…) Dizia-me ontem um amigo francês esta tristeza: – de Camilo em diante, parece que os escritores portugueses têm as raízes fora de Portugal! E é verdade. Por desgraça, somos todos, em mísero, Anatoles, Prousts, Morgans, Valérys, ou outros igualmente grandes e igualmente alheios. Daqui, deste avaro torrão, e com a consciência profunda dele, é que ninguém quer ser. E aí temos o resultado: não, existir europeu que se interesse sèriamente pela nossa literatura contemporânea. – Para quê? – perguntava-me irònicamente o mesmo sujeito. E dava-me a resposta: – Bem vê, temos lá os originais…
Mas ninguém é capaz de fazer compreender estas singelas coisas a uns pobres de Cristo que para aí fazem prosa e verso. Enfrenizam-se na asneira, e debilitam ainda mais as virtudes particulares que, pelo que diz respeito pròpriamente a Portugal, embora brandas, são as que temos para nos salvar ou perder.”

Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 77, Coimbra Editora, 1960.

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