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12/12/2012

NOCTURNO



Venho da rua. Subo a escada. Fecho a varanda
Acendo a luz. Abro a varanda. Apago a luz.

Porque ladram, sempre, todos estes cães?
E se calam, um após outro, até ao derradeiro
ladrido, agora subitamente submisso?

A noite acolhe-me, engalanada de águas,
e desdobra a praia, tão longe, do sono,
com cavalos negros que pisam a cintilação
da areia molhada.

A noite é âmbito, tiedro, silêncio.
Eh! Tu!

A voz de estanho me chama,
mortiça, do fim da rua
e o candeeiro que parece apagar-se.
A árvore e o vento escondem-o e devolvem-no
entre feixes de escuridão.

O estanho, o peltre, o zinco,
uma prata velada, rouca,
aquela rouquidão de sangue antiga.
Cristais, carvão.

Cada onda relincha e flameja crinas.

Eu finjo-me surdo. Ou também
sou o estorvo de estoupa na garganta do vento,
a rouquidão da prata.

– Se não fosse por mim…

Fecho a varanda. Acendo a luz.

Jordi Sarsanedas, “Quinze Poetas Catalães, pp. 31-32, Limiar, Porto, 1994.
Trad. Egito Gonçalves