Coimbra,
17 de Novembro de 1939 –
Nova ida a Conímbriga. Mas é
escusado insistir. A arqueologia, levada ao caco, reduzida a uma
pedra esfarelada, faz-me sentar na primeira sombra, de onde me ponho
a imaginar no pó das ruínas a vida que nelas palpitou.
Foi
o que hoje aconteceu. A olhar de longe aquela muralha que cortou a
cidade ao meio, ocorreu-me que ela era, afinal, uma das tantas linhas
Maginot que esta velha humanidade tem construído. Mais sgnificativo
que as banheiras e os mosaicos, pareceu-me o medo que fez levantar
aquela cerca de pedra.
E acabei longe dali, numa abstracção: que tudo o que é realmente
grande não tem muros. Que, na Idade Média, em que tanta parede se
fez, só o que saíu fora das ameias ficou eterno: os trovadores e os
peregrinos. A poesia e a fé.
Miguel
Torga, “Diário I”, pág. 115, 1941, Coimbra.
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