17/11/2018

...


Coimbra, 17 de Novembro de 1939 Nova ida a Conímbriga. Mas é escusado insistir. A arqueologia, levada ao caco, reduzida a uma pedra esfarelada, faz-me sentar na primeira sombra, de onde me ponho a imaginar no pó das ruínas a vida que nelas palpitou.
Foi o que hoje aconteceu. A olhar de longe aquela muralha que cortou a cidade ao meio, ocorreu-me que ela era, afinal, uma das tantas linhas Maginot que esta velha humanidade tem construído. Mais sgnificativo que as banheiras e os mosaicos, pareceu-me o medo que fez levantar aquela cerca de pedra.
E acabei longe dali, numa abstracção: que tudo o que é realmente grande não tem muros. Que, na Idade Média, em que tanta parede se fez, só o que saíu fora das ameias ficou eterno: os trovadores e os peregrinos. A poesia e a fé.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 115, 1941, Coimbra.

Sem comentários: