Em
Portugal, parece que esse tal otimismo da vontade está a diminuir.
As manifestações estão a tornar-se cada vez mais eventos vazios
sem consequências práticas...
Tem
havido um decréscimo drástico da democracia na Europa. E é
compreensível. “The Wall Street Journal” apontou correctamente
há alguns anos que não importa que partido ganhe as eleições,
sejam os comunistas, os fascistas ou algum outro partido no meio irão
sempre aplicar as mesmas políticas, porque as políticas não estão
nas mãos das populações mas estão sempre determinadas pela
burocracia em Bruxelas que tem em cima dos ombros a pressão dos
bancos alemães. Mas não devemos aceitar isso. Por exemplo, quando
há semanas o Governo português recusou solidarizar-se com o Syriza
e decidiu seguir as políticas e mandamentos dos bancos alemães, a
população não deveria ter aceitado. O Governo não está livre do
poder público.
Quer
dizer que nós portugueses, assim como os espanhóis e os gregos, não
deveríamos pagar a dívida?
Bem,
uma grande parte da dívida é aquilo que na terminologia legal se
chama de “dívida odiosa”, ou seja, uma dívida que não é da
responsabilidade das populações. Trata-se de um conceito da lei
internacional criado pelos EUA e que remonta há mais de um século.
Quando os EUA conquistaram Cuba. Em 1898, não queriam pagar a enorme
dívida que cuba tinha em relação a Espanha. Então os EUA
determinaram que a dívida não tinha sido contraída pelo povo
cubano, mas pelos ditadores, os colonizadores. Portanto, a dívida
foi considerada ilegítima e não teria de ser paga. Este é um
conceito que tem sido aplicado uma série de vezes. Se olharmos para
as dívidas de países como a Grécia, Portugal e Espanha, são
contraídas por banqueiros, governantes e elites. As populações não
têm nada a ver com isso e portanto não existe qualquer razão para
pagarem.
Noam
Chomsky, in “Passeio Público 33 minutos com...”
Entrevista de Bernardo Mendonça, Catarina Pomba Nabais e Diogo Silva
Cunha, 'E' a Revista do Expresso Edição 2220 de 16/Maio/2015.