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11/12/2012

A MORTE DO PAI...


A MORTE DO PAI

Toda a mulher adora um fascista…
Sylvia Plath


Aquela parte de mim que adorava um fascista
– ou o adora, quem sabe? –
jaz contigo, jaz contigo.

O túmulo não a espanta. Desde sempre chamada
ao mais escuro domínio,
morre contigo, vive de ti.

Oferenda trémula, sabe apenas seguir-te
e agasalhar-se no teu mal
como no porto mais seguro.

Medusa desossada, o que de mim resta
luta por completar-se
sem ti, longe de ti.

O bisturi vacila. Quem vive mais além?
E como poderei pensar-te
como se eu não fosse tu?

O meu amor sem casa.
A bala que atravessa a sombra do meu amor sem casa

As folhas que cobrem a bala que atravessa a sombra do meu
amor sem casa.
O vento que arranca as folhas que cobrem a bala que atravessa
a sombra do meu amor sem casa.
Os meus olhos que se agarram ao vento que arranca as folhas
que cobrem a bala que atravessa a sombra do meu amor sem casa.
O meu amor que se reflecte nos olhos que se agarram ao vento
que arranca as folhas que cobrem a bala que atravessa a sombra
do meu amor sem casa.

Maria Mercé Marçal, “Quinze Poetas Catalães”, pp. 75-76, Limiar, Porto, 1994
Tradução de Egito Gonçalves