Paris,
14 de Janeiro de 1938
– Ponho-me
a pensar nos cinco milhões de homens que formigam nestas ruas. A
pensar que, embora todas estas avenida, estas praças, estes
monumentos sejam criações suas, o homem perdeu aqui, mais do que
noutra parte, as rédeas da sua personalidade, consentindo que
a criatura domine o seu criador. Não posso dizer ao certo por quê,
mas a impressãao que se tira desta enorme multidão
é de que não se trata de gente mas duma grande levada que
as próprias ruas canalizam. Tem-se a impressão que a cidade actuou
nela como um forte raio X,
reduzindo-a a uma transparência humana que toca pelo irreal.
Miguel
Torga, “Diário I”, pág. 61, 1941, Coimbra.
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