14/01/2019

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Paris, 14 de Janeiro de 1938 Ponho-me a pensar nos cinco milhões de homens que formigam nestas ruas. A pensar que, embora todas estas avenida, estas praças, estes monumentos sejam criações suas, o homem perdeu aqui, mais do que noutra parte, as rédeas da sua personalidade, consentindo que a criatura domine o seu criador. Não posso dizer ao certo por quê, mas a impressãao que se tira desta enorme multidão é de que não se trata de gente mas duma grande levada que as próprias ruas canalizam. Tem-se a impressão que a cidade actuou nela como um forte raio X, reduzindo-a a uma transparência humana que toca pelo irreal.

Miguel Torga, “Diário I”, pág. 61, 1941, Coimbra.

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