Mostrar mensagens com a etiqueta Inês Lourenço. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Inês Lourenço. Mostrar todas as mensagens
17/11/2015
Letra em saque...
CURSIVO INGLÊS
Continuavam as aulas de caligrafia
da dona Otelinda com o seu
aparo de lança n.° 120,
molhado de tinta azul, a deslizar
em torneadas maiúsculas
no papel almaço. Continuavam
apesar das máquinas de escrever
da sala 8, para as alunas mais
adiantadas.
No cursivo inglês
que talvez Pessoa tivesse aprendido,
caligrafávamos: Amigo e Senhor e
de Vossa Senhoria, Atenciosamente.
Depois nas aulas de francês e inglês
aprendíamos – já sem caligrafia – e
regressadas à esferográfica (que
Pessoa não conheceu) as
mesmas cantigas de amigo. Havia
sempre um Dear Sir ou um Cher
Monsieur para redigir carta
sobre a letra a receber ou
a pagar avec nos salutations,
les plus distinguées.
Letras com um sacador
e um sacado, que se tornava
sempre o aceitante, até
à data do vencimento.
Inês Lourenço, “O Segundo Olhar (Antologia)”, p. 25, Companhia das Ilhas, 2015.
31/10/2012
FAZ-ME FRIO ESTE OUTONO
FAZ-ME FRIO ESTE OUTONO
Faz-me frio este Outono
a boiar sobre o corpo,
a poesia sem ancas,
a música passada
por ovo e pão ralado,
faz-me frio este fender castanho
este horizonte ao espelho,
faz-me frio o esmalte descascado
a tapar
o interior
revelho.
Inês Lourenço, “Cicatriz 100%”, p.46, Cooperativa Editorial
das Mulheres, Lisboa, 1980.
Subscrever:
Mensagens (Atom)