José Blanc de Portugal (Lx, 1914 - 2000)
IX. 5
ÚLCERA CRÍTICA
(auto - e hetero-crítica)
ÚLCERA CRÍTICA
(auto - e hetero-crítica)
Todos querem ser o que não são
E eu à regra não faço excepção.
Se acontece que eu mil vezes mudo
É só por querer depressa ser tudo
Tudo, entendamos exclui meio milheiro...
Em especial: académico e banqueiro.
Um porque sabe a mais o que é de menos
O outro sofre muito se os lucros são pequenos!
Ambos, porque sim e porque não
Esses querem bem ser o que são...
Admiro até, porém, as linhas rectas
Mas geometria é realmente coisa de poetas
Que eu entorto em letras p'ra fazer um dístico
Capaz de fazer passar até por aforístico
Mas nem sorte alguma.
Puras agulhas de pinheiro, simples caruma
secas como as rectas da geometria
-A grande irmã secreta da poesia-
Que faz as úlceras dos críticos
Em seus comentários analíticos...
22.2.67
José Blanc de Portugal in "Enéadas - 9 Novenas", INCM, col. Biblioteca de Autores Portugueses, p.10, 1989.
E eu à regra não faço excepção.
Se acontece que eu mil vezes mudo
É só por querer depressa ser tudo
Tudo, entendamos exclui meio milheiro...
Em especial: académico e banqueiro.
Um porque sabe a mais o que é de menos
O outro sofre muito se os lucros são pequenos!
Ambos, porque sim e porque não
Esses querem bem ser o que são...
Admiro até, porém, as linhas rectas
Mas geometria é realmente coisa de poetas
Que eu entorto em letras p'ra fazer um dístico
Capaz de fazer passar até por aforístico
Mas nem sorte alguma.
Puras agulhas de pinheiro, simples caruma
secas como as rectas da geometria
-A grande irmã secreta da poesia-
Que faz as úlceras dos críticos
Em seus comentários analíticos...
22.2.67
José Blanc de Portugal in "Enéadas - 9 Novenas", INCM, col. Biblioteca de Autores Portugueses, p.10, 1989.