Leiria,
21 de Novembro de 1939 –
Hoje em Coimbra encontrei à
cabeceira da cama de um amigo, encaixilhado, o If do
Kipling. Apesar do poema a
meu entender ser uma espécie de grande pílula Pink para uso do
Império Britânico, o facto de o ver
no lugar onde costuma ficar o Cristo, enterneceu-me. Não era
precisamente o povo grego arrastado pelo ritmo do Pean, mas era um
homem a benzer-se de manhã com meia dúzia de estrofes. É que isto
de versos vai de mal a pior. Qualquer dia, nós, os poetas, temos
mesmo que pedir desculpa à vizinhança deste feio vício.
 Deste
vício que Camões pagou tão caro, e que dá frutos bichosos como as
Coplas do Jorge
Manrique  a  Ode à Alegria
do Schiller.
Miguel
Torga, “Diário I”,  pág. 118, 1941, Coimbra.
 
 
 
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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