"Então, que mentalidade mais realista podemos levar connosco para um casamento? Que tipo de votos precisaremos de trocar com o nosso parceiro para estabelecermos boas hipóteses de fidelidade mútua? Certamente que alguma coisa muito mais cautelosa e pessimista do que as banalidades do costume. Por exemplo: prometo desiludir-me contigo e só contigo; prometo fazer de ti o único repositório dos meus pesares, em vez de os distribuir por vários casos extraconjugais e por uma vida de D. Juanismo sexual; analisei as diferentes opções para ser infeliz e foi contigo que escolhi comprometer-me. É este o tipo de promessas generosamente pessimistas e gentilmente pouco românticas que os casais deviam fazer no altar.
A partir daí, um caso amoroso seria uma infidelidade somente à jura recíproca de se ficar desiludido de uma determinada forma e não uma esperança irrealista. Os cônjuges traídos já não se queixariam furiosamente de que esperavam que o parceiro fosse feliz com eles 'per se'. Em vez disso, poderiam gritar incisiva e justamente: "confiava que serias leal à variedade específica de desilusões que eu represento. ""
Alain Botton, "Como Pensar Mais Sobre Sexo", pág. 137. Expresso, 2019.
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23/10/2019
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