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03/03/2013

do «Rumo ao Farol»...

 Francesc Català-Roca ©   


Aquele que desde a meninice desejava ser poeta se rendeu à evidência de que a criação poética corresponde à conquista e à utilização de uma magia verbal – a um uso supremo da linguagem. O estudo da retórica poética lhe transmitiu a convicção de que o poeta, essa criatura tão ciosa de sua identidade, ao produzir a sua obra tem a liberdade de um jogador de futebol ou de xadrez. Ela, a poesia, é construção e arquitetura. Ordem e desordem, razão e desrazão, contenção e transbordamento, rigor e desrigor, a Poesia é a arte de fazer versos, ou de saber fazer versos – é o exercício de uma competência e obedece a leis secretas (ou a uma única Lei) como o mundo em que vivemos, com as suas estações, a noite e o dia, a vida e a morte, o amor e o ódio. E também aprendeu que, através dos anos e dos séculos, a poesia não progride. As rupturas e mudanças, as revoluções estéticas mais desabridas e desnorteantes, as experimentações mais desvairadas, não têm o poder de proceder a metamorfoses; são apenas acréscimos, o incessante fluir de um processo, as novas etapas de uma tradição. Ou instantes ambiciosos ou frenéticos que o tempo, ou o vento, haverá de apagar.

Lêdo Ivo
in “Antologia Poética”, Edições Afrontamento, Porto, 2012.