Francesc Català-Roca © |
Aquele que desde a meninice desejava
ser poeta se rendeu à evidência de que a criação poética corresponde à
conquista e à utilização de uma magia verbal – a um uso supremo da linguagem. O
estudo da retórica poética lhe transmitiu a convicção de que o poeta, essa
criatura tão ciosa de sua identidade, ao produzir a sua obra tem a liberdade de
um jogador de futebol ou de xadrez. Ela, a poesia, é construção e arquitetura.
Ordem e desordem, razão e desrazão, contenção e transbordamento, rigor e
desrigor, a Poesia é a arte de fazer versos, ou de saber fazer versos – é o
exercício de uma competência e obedece a leis secretas (ou a uma única Lei)
como o mundo em que vivemos, com as suas estações, a noite e o dia, a vida e a
morte, o amor e o ódio. E também aprendeu que, através dos anos e dos séculos,
a poesia não progride. As rupturas e mudanças, as revoluções estéticas mais
desabridas e desnorteantes, as experimentações mais desvairadas, não têm o
poder de proceder a metamorfoses; são apenas acréscimos, o incessante fluir de
um processo, as novas etapas de uma tradição. Ou instantes ambiciosos ou
frenéticos que o tempo, ou o vento, haverá de apagar.
Lêdo Ivo
in “Antologia Poética”, Edições Afrontamento, Porto, 2012.