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12/05/2019

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“Toda a nossa actividade literária é de uma mesquinhez atroz. Nós não temos o direito de escrever. Falo de nós todos. Postos de parte os Tónios e as Marias dos imbecis, que nos fica? O romance de gabinete, essa porcaria «inteligente», essa masturbaçãozinha de impotentes. Ou então, o romancezinho «psicológico», em que se trata o homem com desprezo, se vem contar, com petulância, como é feito por dentro e dá entre nós um génio em cada cinco anos, esse romancezinho feminino que Proust, como «mulher» que era, põs em moda. Sim, que só mesmo uma mulher podia inventar essa coscuvilhice íntima, essas histórias, e històriazinhas cheias de pequenininhas observações, esses períodos longos e complicados como folhos e rendas de uma boneca. Contra mim falo, meu amigo, ah, contra mim falo. Mas não há outra saída. E todavia a hora é da ardência, do sangue!”

Vergílio Ferreira, “Cântigo Final”, pág. 22, Portugália Editora, Lx, s/d. (escrito em Évora em 1956).

14/05/2016

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PARMÉNIDES
Em primeiro lugar, é necessário,julgo, é necessário, julgo eu, que as outras coisas existam de algum modo, porque, se não existissem, não poderiamos falar das coisas.

ARISTÓTELES
Com efeito.

PARMÉNIDES
E quando falamos das outras coisas, subentende-se que essas «outras coisas» são diferentes. Ou não aplicas tu as palavras «outro» e «diferente» à mesma coisa?

ARISTÓTELES
Sim.

PARMÉNIDES
Não dizemos que o que é «diferente» difere de alguma coisa diferente, e o que é «outro» o é em relação a alguma outra coisa?

ARISTÓTELES
Sim.

PARMÉNIDES
Deste modo, para que as outra coisas sejam «outras», deve haver alguma coisa em relação â qual elas sejam «outras».

ARISTÓTELES
Forçosamente.

PARMÉNIDES
Que coisa será essa? Não é relativamente ao uno que ela serão «outras», visto que o uno não existe.

ARISTÓTELES
Não.

Platão,”Paménides ou das Ideias”, Editorial Inquérito, pp. 140-1, s/d, Lx.
Trad. A. Lobo Vilela.



Ao contrário do que diz Vieira, o non não é «terrível». É uma palavra inteira, acabada, por qualquer lado que se tome. Mais brilhante que a afirmação é sempre a negação . Porque a negação é a afirmação que pára no limite dos riscos.

Quem nega, afirma um critério, mas não se responsabiliza pela reconstituição do que esse mesmo critério destruiu. Sim, a negação é sempre mais brilhante que a afirmação. Porque quem apenas nega tem na sua mão a possibilidade de todas as soluções positivas, inclusive, portanto, a de quem, além de negar, afirma.

Vergílio Ferreira, “Do Mundo Original (ensaios)”, pág.25, Livraria Bertrand, 2.ª ed., 1979, Lx.