"(...)
Mostraram-lhes
um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão
e acenaram para a terra, como quem diz que os havia ali.
Mostraram-lhes um carneiro: não fizeram caso. Mostraram-lhes uma
galinha, quase tiveram medo dela: não lhe queriam pôr a mão; e
depois a tomaram
como que espantados.
Deram-lhes
ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos
passados. Não quiseram comer
quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram
fora.Trouxeram-lhes
vinho numa taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram nada, nem
quiseram mais. Trouxeram-lhes
a água em uma albarrada. Não beberam. Mal a tomaram na boca, que
lavaram, e logo
a lançaram fora.
Viu
um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem,
folgou muito com elas, e lançou-as
ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a
terra e de novo para as contas
e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.
Isto
tomávamos nós assim por assim o desejarmos. Mas se ele queria dizer
que levaria as contas emais o colar, isto não o queríamos nós
entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas
a quem lhas dera.
Então
estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir, sem buscarem maneira de
cobrirem suas vergonhas, as quais não eram fanadas; e as cabeleiras
delas estavam bem rapadas e feitas. O Capitão lhes
mandou pôr por baixo das cabeças seus coxins; e o da cabeleira
esforçava-se por não a quebrar. E
lançaram-lhes um manto por cima; e eles consentiram, quedaram-se e
dormiram.
(...)”
PERO
VAZ DE CAMINHA