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30/04/2012

Negativos e positivos...

in situ de Marçal dos Campos no espaço Campanhã - Porto, 2009. 

in situ de Marçal dos Campos no espaço Campanhã - Porto - Quando negativo!...



SETE OITAVAS EM PROSA SOBRE LUIZ DE CAMÕES
Luís Pignatelli

Luiz, poeta nosso, tens sido pau para toda a colher.
Vê lá tu como te têm pintado: de olho vazado, não se
sabe ainda se o esquerdo se o direito, obra parece da
moirama, em Ceuta, quando nostálgico pensavas na tua,
nossa  Pátria tão amada, um ramo de loureiro na cabeça,
semelhando os que se põem às portas das casas de
pasto, como se a tua Glória tivesse que ser comprovada
com qualquer penduricalho académico!

Vieram depois as fitas, ó meu deus do celulóide!, e
foram as borradas que se viram: engatatão de tricanas
no Mondego, ou arrebenta, em Lisboa, para gáudio
de gentes de farto patilhame, ou Amálias cantarem, es-
tornicando os dedinhos no sentimento franjado dos
sofisticados merinos, que raio de pachorra temos tido, ó
Luiz nosso, com estes malandrins, que ainda há muitos,
para enterrar de vez, mijar-lhes em cima.

Também o martírio da escola havia de chegar, para grande
 susto das crianças que éramos: esse rosário de ora-
ções a dividir, o olho do professor brilhando, rapace, mais a
cacafonia da almaminha, mai-la chateza das sabenças dos
mestres Pimpões, ódio era o que tínhamos por ti, ó Luiz
nosso, daí nada sabermos do teu nascimento, da tua vida,
das paixões tuas, mágoas sem remédio, contentamentos
descontentes.

É claro que medalhas, medalhinhas, medalhonas, sempre
as tiveste, e discursos, presidentes, artesanatos, edições
de bolso (é ver o nosso Leão que tão bem se tem repimpa-
do nesta matéria), não te faltaram nunca, mas do teu na-
dar ensinando o amor da Pátria, tão desgraçada ainda.
Quem tem dado por isso? Que espécie de Povo te tem
lido? No largo de teu nome em bronze te deixaram, para
a deletéria defecção de turísticas pombas.

Só muito tarde descobrimos, meu fintador do real, a for-
ma como passaste a perna a esses padrecas que te queri-
am dar uma fogueirinha, mas dos rigores do Inverno sa-
bias tu, meu sefardim, até que naquela triste e leda ma-
drugada te foste desta Casa, meu forçado, lírico emigran-
te, dinheiros que mandaste, versos de ouro, quem os dizi-
mou? Ao Povo que te amava, que disseram? Sabiam teu cora-
ção ferido, ferida corça, os dizimados bosques?

Bonito moço o foste sempre, qual ceguinho, qual quê!
Sabias tanto de geografia, artes de marear, que até cha-
teava, por isso é que não te enganaste no caminho, e a
nado, o que é ainda mais difícil, meu recordista mundial,
mas quanto a direitos de autor, nicles! Os safados
pensavam que não havíamos de ter nunca um Francisco Re-
belo, uma Sociedade de Autores, mas enganaram-se, os ar-
ganazes, acabou-se-lhes a mama.

Os que só te queriam comemorativo, estão lixados, vais
ser de todos os dias, acabaram-se os cárceres dourados
dessa gentalha, as quetes, a lágrima oficial para o poeta
desgraçadinho, já te temos no nosso lado,
aliás como sempre teu desejo, e esta é a
primeira Manife tua, coisa digna e grande de ser vista,
e a reacção não passará, , vê só como gritam o teu no-
me, Luiz amigo, Poeta nosso, o Povo está contigo.

In Revista Camões 2/3, dir. Óscar Lopes, Editorial Caminho, Lx, 1980.


Instalação de Marçal dos Campos, Rua Antero de Quental, Porto



Negativo da Instalação de Marçal , Rua de Antero de Quental, Porto.