27/02/2018
24/02/2018
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Reportagem
5 novembro 2017
Texto de Irina Fernandes Fotografia de Pedro Loureiro
Trabalha como encadernador desde jovem. Vencer obstáculos tornou-se motivador.
Quinze livros de Eça de Queirós empilhados no balcão aguardam a vez. Ilídio olha para as obras do escritor português com tranquilidade. Poderia ser homem para desconfortos e nervosismos, mas não é. «A minha cliente ofereceu a colecção toda à filha e sou eu quem a está a encadernar».
Proprietário de um espaço especializado em encadernações, no Bairro Alto, Lisboa, Ilídio António, 65 anos, tem os olhos numa outra tarefa: o restauro de um livro com insígnia real. «Esta obra pertence à “Colecção dos Documentos, Estatutos e Memórias da Academia Real da História Portuguesa”. O meu cliente quer a encadernação fiel à época».
O peso e o número de folhas da obra são dignos de respeito, mas nem isso intimida Ilídio. «Isto é trabalho para durar uma semana», atira bem-disposto o profissional, enquanto vira o livro auxiliando-se do próprio peito.
Portador de uma doença física congénita – nasceu sem antebraço esquerdo – escolheu ser encadernador, diz, por amor à arte. «Faço todo o género de encadernações de livros, pastas de processos. O que me dá mais gozo é fazer encadernação em pele e restauros. Tem de se ter muita paciência, mas eu gosto muito».
Natural da Chamusca, distrito de Santarém, tinha 13 anos quando em 1966 se mudou para Lisboa para ingressar na Associação para Recuperação dos Deficientes de Mobilidade. «Uma pessoa conhecida dos patrões dos meus pais falou-lhes da escola e recomendou que eu fosse estudar para Alfama».
Em menino, e já homem, Ilídio António nunca permitiu que a deficiência tivesse voz ou lhe moldasse os sonhos. «A minha deficiência é de nascença. Sempre me conheci assim e, portanto, não estranho... No meu íntimo não sinto limitação». Ilídio sempre foi rapaz destemido com vontade de vencer na vida. «Eu corto um bife, descasco batatas, conduzo, jogo às cartas. Faço tudo o que faz uma pessoa vulgar», explica o encadernador profissional que, desde 1980, tem portas abertas na Rua da Vinha, N.º 13A, em Lisboa.
Na estrada e na vida a deficiência física nunca o perturbou. Foi, desde sempre, uma criança activa e um jovem optimista. «Quando era novo até costumava cavar a terra, sempre fiz de tudo! No meu interior e no meu pensamento, não me sinto diminuído em nada. Não me sinto inferiorizado».
Aos 19 anos viu ser-lhe oferecida uma prótese, mas acabou por colocá-la de parte. «Nem para conduzir me ajeito com aquilo. Foi o Estado português que me deu. Ainda cheguei a usá-la, mas só até certa idade… Para mim é um estorvo».
Tactear, recortar ou aparafusar são tarefas que poderiam ser impraticáveis, mas Ilídio fá-las com perfeição técnica, rigor e brio. «O que acontece é que tenho sempre de pensar antes da execução em si. E quando sinto alguma dificuldade a fazer alguma coisa sou ainda mais teimoso. Não desisto facilmente».
Exibindo um sorriso maroto, dá um exemplo prático. «Como é que espeto um prego numa tábua? É fácil. Agarro num furador, faço um ligeiro encosto para obter um buraco, meto lá o prego e depois é só martelar».
Com uma larga carteira de clientes, é reconhecido como profissional de excelência. «Tenho só um ou dois clientes de porta, a maioria aparece por recomendação de alguém. Por exemplo, o embaixador do Luxemburgo é meu cliente. Veio ter aqui comigo por indicação de outra pessoa quando ainda era assessor do Dr. Jorge Sampaio».
«De uma maneira ou de outra, consegue-se sempre fazer as coisas. Sempre. Quem não tem deficiência não tem de criar alternativas para desempenhar tarefas porque é capaz de as executar no imediato. Pessoas como eu têm sempre de pensar em primeiro lugar e encontrar a melhor solução. Mas a dificuldade aguça o engenho».
Garante que, ao longo da vida, nunca se sentiu discriminado. «Em termos do ofício não dou razão para isso. E o vasto leque de amigos que tenho… nunca me demonstrou isso, sempre me trataram com muito carinho», conta.
Homem de vitalidade ímpar e espírito empreendedor, Ilídio António, pai de um rapaz, Daniel Filipe, de 35 anos, não soma apenas sucessos como encadernador.
É também um homem bem-sucedido na área dos negócios. Ao longo dos anos foi investindo na compra e arrendamento de imóveis. «Inclinei-me para o cimento (risos). Comprei uma casa, depois outra e mais outra. Em vez de comprar acções meti-me nisto. Enfim, sou um homem das letras, mas também dos números», diz a rir-se.
Atento ao mundo que o rodeia, brilha igualmente no campo político. «Fui arrastado, há uns bons anos, para a politiquice. Desde 1994 que faço parte dos órgãos da junta de freguesia da Pontinha».
No passado teve também papel activo na área do desporto. «Sempre tive o hobby de conviver e isso levou-me a ser dirigente do clube da Pontinha, que é muito conhecido pelo torneio internacional de futebol infantil que que organiza. Exerci vários cargos, nomeadamente presidente da direcção e vice-presidente».
Firme nas palavras e na postura, Ilídio António deixa uma mensagem, em especial aos portadores de deficiência: «Exerçam as profissões que bem entendam, adequadas à vossa própria deficiência, porque com vontade e, acima de tudo, com gosto, tudo se consegue na vida».
20/02/2018
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"Coimbra,
17 de Abril de 1943 – E agora queria dizer-lhe uma coisa…
–
Faça favor.
E
lá contou que há dois anos, numas termas sulfurosas, encontrara um
sujeito de Lisboa que lhe falara com muito entusiasmo dos meus
livros.
–
Sim, senhor. Isso é curioso…
E
fiquei-me a pensar para dentro que os escritores em Portugal são
como as raparigas feias nos bailes: passam a noite a sonhar com os
mil admiradores que poderiam ter, e a contar pelos dedos os heróis
que na realidade as tiram para dançar."
Miguel
Torga, “Diário II”, pág. 171, Coimbra.
17/02/2018
13/02/2018
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“Coimbra, 26
de Maio de 1942 – Mais um livro. Mais uma tonelada de energia
perdida, que, gasta na minha terra a saibrar monte, dava pelo menos
um milheiro de bacelo planteado. Mas pobre de quem tem uma chaga!
Pobre de quem tem a mísera condenação de ser poeta, e de o ser
aqui…”
Miguel
Torga, “Diário
II” 3ª ed. Revista, pág. 35, Coimbra Editora, 1960.
“Coimbra,
27 de Maio de 1942 – Lá foi o livro para as quatro ou cinco
pessoas a quem ainda, por amizade melancólica, ofereço as minhas
coisas, sem a esperança duma linha sequer a dizer – cá recebi. Se
eu lhes enviasse salpicões ou perdizes, era um caso – vinha uma
carta a correr; mas mando versos… De resto, tanto me faz, como me
fez. Com quem eu e todos os que escrevem temos de as jogar não é
com a inveja ou com a indiferença dos do nosso tempo. É com uns
implacáveis mas impessoais senhores do futuro, que dizem sim ou não
sobre uma obra, tanto lhes dando que o autor tivesse em vida lâmpadas
acesas em Meca como círios apagados em Jerusalém.”
Miguel
Torga, “Diário
II” 3ª ed. Revista, pp. 35-36, Coimbra Editora, 1960.
12/02/2018
01/02/2018
17/01/2018
10/01/2018
08/01/2018
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“Na casa ao lado era a corte da
cabrada. Diante deles os cabritinhos abstiveram-se de tocar nos úberos maternos
por discreção ou natural reserva, em contra dos cordeiros. Mas aproximaram-se
de Luzia a lamber-lhe a fímbria da saia com a língua vermelha e estreita como malagueta
enquanto outros olhavam para ela estarrecidos. Ao cabo dum instante, porém,
familiarizados, romperam a todo o largo do estábulo em saltos e gambérrias de
acrobatas incipientes. E eram encantadores como figuras de presépio com o seu
pelame às malhas, o rabito alado, os botins luzentes, e no focinho um ar de
esperteza e graça.
– Êstes bichinhos são os meus
amores – disse ela. – Compreende-se o apêgo dos poetas antigos à vida pastoril.
Na criação há lá nada mais vivo, diabólico, dinâmico que um chibato? Repare
como são mais interessantes que os meninos embrutecidos por séculos de
civilização, que acima de tudo tem o efeito de destruir no instinto, tenaz e
sistemàticamente, o que possui de belo e autónomo. Não se sujam, não trazem
ranho, não contraem doenças, não precisam de parteiras nem de médicos. Onde o
espírito chegou… estragou...”
Aquilino
Ribeiro, “Quando Ao Gavião Cai a
Pena”, pp. 31-2, Livraria Bertrand, Lisboa, s/d.
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“E olhe, pus de parte o
circunstancial e episódico, senão tínhamos relato minucioso e estirado à Marcel
Proust.”
Aquilino
Ribeiro, “Quando Ao Gavião Cai a
Pena”, pág. 23, Livraria Bertrand, Lisboa, s/d.
“Dois pavões arrastavam pelas
carvalhas esqueléticas suas capas de asperges episcopais, soltando o miado de
tigres assanhados.”
Aquilino
Ribeiro, “Quando Ao Gavião Cai a
Pena”, pág. 27, Livraria Bertrand, Lisboa, s/d.
30/12/2017
31 de Dezembro...
Wenceslau de Moraes, 1903 |
“Quando
uma creança nasce, entra no seu primeiro anno de existencia… de
publicação, dá-me
vontade de dizer. No seguinte anno do calendario, entra no seu
segundo anno de existencia. O dia do anno novo é, pois, de certo
modo, um anniversario impessoal, o anniversario de toda a gente. De
maneira que, por exemplo, o menino nascido no dia 31 de dezembro,
entra no dia 1.º de janeiro no seu segundo anno; a mãe dirá que
tem dois annos, e nós… que tem dois dias. Em geral, quando um
japonez nos diz a sua idade, convém descontar-lhe um anno, pelo
menos, reduzindo assim a cifra á nossa maneira de contar.”
Wenceslau
de Moraes, “Cartas do
Japão”, pág. 166,
Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
23/12/2017
20/12/2017
Alusão à quadra...
“Desejando dar um resumo dos ultimos
factos, alludo apenas á quadra em que me encontro, pela qual, em lares inglezes
ou inglezados, vai fructificando a arvore do Natal, pendendo a ramaria ao peso
das almofadas para alfinetes, das bolas de vidro prateado, das bocetas com
confeitos e de outras bugigangas; a mais, um cheiro a cêbo, intoleravel, emanando
do classico plum-pudding... Refugio-me
no meu albergue, entricheiro-me; e, se alguem vier aqui convidar-me para alguma
festa... dou-lhe um tiro!... “
Wenceslau de Moraes,
“Cartas do Japão”, pág. 159, Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
18/12/2017
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“E agora uma nota derradeira: Ha
dias, um jornal do Japão dava a seguinte noticia aos seu leitores:
“Entre
os sete estudantes chinezes, chegados a
Tokio ultimamente, conta-se um descendente, do sexo feminino, de Confucius.”
Não
vos parece, leitor, extremamente emocionante o caso d’estas noticias actuaes,
referidas aos parentes de um homem que viveu ha vinte e quatro seculos, e que
já ia contando antepassados remontando a uns mil annos atrazados?… No
Extremo-Oriente, em verdade, não desperta isto muito espanto. Aqui, pelo amor
da tradição, pelo respeito dos avós, pela religião do lar, a memoria perpetúa a
linhagem das familias. Pelo contrario, no Occidente, os tempos tudo apagam; a
vida de hoje afoga-se amanhã no esquecimento. Imaginem como seria recebida uma
noticia n’estes termos, lida nas folhas europeias: – “Uma prima de Socrates
acaba de chega a Torres Vedras, onde vem aprender a lêr pelo methodo de João de
Deus…?” – Desatava toda a gente às gargalhadas!…, Ai, pobres mortos, os nossos
pobres mortos, os mortos do Occidente!...”
Wenceslau
de Moraes, “Cartas do Japão”, pág.
147, Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
15/12/2017
14/12/2017
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Ex-administrador do Facebook diz que redes estão a
destruir o funcionamento da sociedade
Ana S. Ferreira
12 Dezembro 2017 às 20:54
Ex-administrador do Facebook diz que redes estão a destruir o funcionamento
da sociedade
Chamath Palihapitiya, ex-diretor
executivo da rede social Facebook, admitiu sentir-se "tremendamente
culpado" por ter participado na construção de uma ferramenta que está
agora a "destruir a forma como a sociedade funciona".
Palihapitiya, que foi também foi
vice-presidente do departamento de utilizadores do Facebook até 2011, ano em
que saiu para criar a sua própria empresa de investimento em capitais de risco
na educação e na saúde, disse acreditar que o "os ciclos de
retro-alimentação a curto prazo, impulsionados pela dopamina que criamos, estão
a destruir o funcionamento da sociedade". São desprovidos de qualquer
"discurso civil", com "informações erradas e inverdades".
Como vice-presidente, Palihapitiya tinha
a função de gerir e aumentar o número de utilizadores da rede social. "No
fundo, todos sabiam que algo mau poderia acontecer". E o problema,
acrescentou, "não é americano nem está relacionado com as mensagens
patrocinadas pela Rússia. É global".
Na palestra, feita no mês passado na Stanford
Business School mas só agora noticiada pelo site especializado em tecnologia
"The Verge", Palihapitiya pediu à audiência que descansasse das redes
sociais: "Encorajo-vos, todos, a interiorizar a gravidade do
problema", disse. "Se alimentarem a besta, ela irá
destruir-vos".
"Vocês não se apercebem, mas os
vossos comportamentos estão a ser programados", avisou, defendendo que as
redes sociais estão a "danificar as bases fundamentais de como as pessoas
se comportam e se relacionam".
Admitindo que não tem uma boa solução
para resolver o problema, assume que ele próprio não usa a sua página de
Facebook. Sem papas na língua: "Eu não uso esta merda e não permito que os
meus filhos usem esta merda". Contudo, não deixou de realçar que o
Facebook tem pontos positivos e garantiu que o dinheiro que lhe pagaram pelo
trabalho que fez na empresa irá ser usado no apoio a causas mundiais.
As declarações de Palihapitiya
seguiram-se às de Sean Parker, presidente fundador do Facebook, que, também no
mês passado, criticou duramente a empresa por "explorar a vulnerabilidade
da psicologia humana", criando uma "contínua alimentação da validação
social".
10/12/2017
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“Os
misteres de carpinteiro, de estucador, etc., são verdadeiros
sacerdocios; devendo observar-se que durante a construção de um
edificio e em certos estados de adiantamento da obra, os obreiros
praticam certas mysticas ceremonias. Erros de construção, ainda os
mais simples, dão origem a calamitosos resultados. No numero de taes
erros, figura o chamado sakasa-bashira,
viga às avessas. Os carpinteiros empregam escrupulosas attenções
no assentamento
das grandes vigas verticaes das casas japonezas, devendo collocal-as
na sua natural orientação, isto é, taes como se conservavam como
arvores, com a parte sêcca da raiz para baixo, com a parte junto da
rama para cima. A’s vezes, dá-se o equivoco, assentando
a viga… de pernas para o ar, como nós poderiamos dizer. O caso é
dos mais graves. Acontece que o espirito da viga soffre atrozmente
com aquella posição contrariada aos seus instinctos e por longo
tempo
supportada. Pela noute desabafa em gemidos, as fendas da madeira
escancaram-se como outras tantas bôccas afflictas, os nós abrem-se
como outros tantos olhos espantados. Contorcendo-se em desesperos, a
viga estremece e abala a casa toda; fura pelas paredes, penetra nos
aposentos, offerecendo-se à visão dos locatarios, adormecidos, em
fórmas diabolicas. E notai que este fracasso redunda em constantes
maleficios, traduzindo-se em infortunios domesticos, em zangas, em
disputas, que só
cessam quando o mal é conhecido e se chama um carpinteiro, que dá
então à viga torturada a posição appetecida.”
Wenceslau
de Moraes, “Cartas do
Japão”, pág. 97, Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
08/12/2017
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“Ora,
os touristes formam uma
interessantissima classe,quasi uma casta, que poderá commover as
almas bem dotadas, mas que antes de tudo provoca riso e mofa. A massa
dos touristes é, na
sua grande maioria, composta do cosmopolitismo endinheirado, marcado
das taras de degenerescencia que particularmente ataca a gente rica:
uns meios nevroticos, outros meios imbecis, outros meios loucos,
outros meios scelerados, todas as mazellas emfim que impellem às
grandes viagens sem intuito, ao movimento pelo prazer do movimento,
quando a vida normal, na patria e na paz do lar, se torna
intoleravel. “
Wenceslau
de Moraes, “Cartas do
Japão”, Vol.1, pág. 74, Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
01/12/2017
Sobre as constipações...
“Pois
é opinião corrente entre os mais eminentes eruditos que o cérebro
não passa de uma multidão de animaizinhos, pequenos mas dotados de
garras e dentes extremamente acerados, os quais se mantêm unidos na
contextura que nos é dado divisar, como a imagem do Leviatã do
Hobbes, ou como abelhas num enxame perpendicular sobre uma árvore,
ou como uma carcaça coberta de vérmina, ainda conservando a forma e
a silhueta do animal de origem; que toda a invenção é produto da
mordedura de dois ou mais destes animais, infligida em certos nervos
capilares que procedem do cérebro, a partir do qual três ramos se
disseminam até à língua e dois até à mão direita. Afirmam
também que estes animais possuem uma constituição extremamente
frígida; que o seu alimento é o ar que atraímos, o seu excremento
a mucosidade; e que aquilo a que vulgarmente chamamos catarro,
constipações e defluxos nasais não são mais do que diarreias
epidémicas, a que aquela pequena comunidade é particularmente
atreita, devido ao clima em que habita. Mais ainda, que nada menos
que um calor violento poderá libertar estas criaturas da sua postura
enganchada, ou dar-lhe vigor e disposição para imprimirem as marcas
dos seus delicados dentes. Que, caso a mordedura seja hexagonal,
produz poesia; a circular gera eloquência, caso a mordedura seja
cónica, a pessoa cujo nervo é afectado deste modo estará na
disposição de escrever sobre política; e assim por diante.”
Jonathan
Swift, “Singela Proposta...”, pp.76-7, ed. Antígona, Lx,
2013.
16/11/2017
...
“De acordo com o moderno
paradoxo. [antiquitas saeculi juventus
mundi, na formulação de Francis Bacon (1961-1626), isto é, o mundo é mais
antigo na era moderna de que o era na antiguidade, já que muitos mais anos
decorreram entretanto.]”
Jonathan Swift, “Singela Proposta”, pág. 25, Antígona,
Lx, 2013.
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