“E agora uma nota derradeira: Ha
dias, um jornal do Japão dava a seguinte noticia aos seu leitores:
“Entre
os sete estudantes chinezes, chegados a
Tokio ultimamente, conta-se um descendente, do sexo feminino, de Confucius.”
Não
vos parece, leitor, extremamente emocionante o caso d’estas noticias actuaes,
referidas aos parentes de um homem que viveu ha vinte e quatro seculos, e que
já ia contando antepassados remontando a uns mil annos atrazados?… No
Extremo-Oriente, em verdade, não desperta isto muito espanto. Aqui, pelo amor
da tradição, pelo respeito dos avós, pela religião do lar, a memoria perpetúa a
linhagem das familias. Pelo contrario, no Occidente, os tempos tudo apagam; a
vida de hoje afoga-se amanhã no esquecimento. Imaginem como seria recebida uma
noticia n’estes termos, lida nas folhas europeias: – “Uma prima de Socrates
acaba de chega a Torres Vedras, onde vem aprender a lêr pelo methodo de João de
Deus…?” – Desatava toda a gente às gargalhadas!…, Ai, pobres mortos, os nossos
pobres mortos, os mortos do Occidente!...”
Wenceslau
de Moraes, “Cartas do Japão”, pág.
147, Imprensa de Portugal-Brasil, s/d, Lisboa.
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