ÀS VEZES, PARA VARIAR, SÃO:
As autoridades que erguem as nádegas
para lhes serem metidas moedas na ranhura.
Os deputados que apostam na comercialização
dos guardas-republicanos.
Os investidores que justificam
a força do uso com a força da usa.
Os magistrados que apoiam a democracia em
público e o cão-polícia em particular.
Os militares que empunham o facho-éclair
para fazer luz sobre o assunto.
Os tecnocratas que manipulam os dados
com os dedos e os dedos com os dados.
Os psiquiatras que ajudam os cães a com
pensar o seu complexo anal e vice-versa.
Os mestres que erguem a voz para dizer
quais as vozes que se devem ouvir.
Os escritores que zelam por que aquilo que é
proibido se torne obrigatório e vice-versa.
Os funcionários públicos que encaminham as
almas para o sétimo selo.
Os sacerdotes que recebem as colheitas com
a colecta anual.
Os internados no manicómio que dão
peidos que abalam a (so) ci (e) dade.
Os jornalistas que digerem este mundo e o outro
porque têm dentes fora e dentro.
O povo que se refere às conquistas de
abril.
Os polícias de choque que empacotam
as bombas e explodem.
Alberto Pimenta, “A Visita do Papa”, pp. 6-7, &etc,
Lisboa, 1982.