02/11/2012

ÀS VEZES, PARA VARIAR...


ÀS VEZES, PARA VARIAR, SÃO:

As autoridades que erguem as nádegas
para lhes serem metidas moedas na ranhura.

Os deputados que apostam na comercialização
dos guardas-republicanos.

Os investidores que justificam
a força do uso com a força da usa.

Os magistrados que apoiam a democracia em
público e o cão-polícia em particular.

Os militares que empunham o facho-éclair
para fazer luz sobre o assunto.

Os tecnocratas que manipulam os dados
com os dedos e os dedos com os dados.

Os psiquiatras que ajudam os cães a com
pensar o seu complexo anal e vice-versa.

Os mestres que erguem a voz para dizer
quais as vozes que se devem ouvir.

Os escritores que zelam por que aquilo que é
proibido se torne obrigatório e vice-versa.

Os funcionários públicos que encaminham as
almas para o sétimo selo.

Os sacerdotes que recebem as colheitas com
a colecta anual.

Os internados no manicómio que dão
peidos que abalam a (so) ci (e) dade.

Os jornalistas que digerem este mundo e o outro
porque têm dentes fora e dentro.

O povo que se refere às conquistas de
abril.

Os polícias de choque que empacotam
as bombas e explodem.

Alberto Pimenta, “A Visita do Papa”, pp. 6-7, &etc, Lisboa, 1982.

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