28/10/2018

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 Exposição Save Material de Renato Ferrão no Museu Nacional Soares dos Reis 12-05-2018 até 28-10-2018.













27/10/2018

Grafologias...
















"Grafologia é um estudo pseudocientífico que utiliza a análise da escrita para inferir sobre traços de personalidade. A palavra é por vezes usada incorretamente para se referir à análise forense de documentos. Neste caso, o termo correto seria grafotécnica ou grafoscopia."

fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Grafologia

25/10/2018

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“Os nazis inventaram as câmaras de gás e o Zyklon B como forma rápida e barata de matar uma grande quantidade de gente para salvar a raça ariana da degeneração. Os nazis julgavam que a raça ariana era de todas a melhor e que eles eram a melhor de todas as nações arianas porque sabiam fazer a guerra e o comércio e organizar convívios populares. (…) E das pessoas asfixiadas arrancavam os dentes de ouro e esfolavam algumas delas para com a pele fabricarem abajures para oficiais superiores e importantes agentes políticos. E antes de as enviarem para as câmaras de gás rapavam-lhes o cabelo que depois era aproveitado para rechear colchões ou fabricar perucas para bonecas. E os cientistas inventaram uma forma de com a gordura das pessoas asfixiadas se fabricar sabão para os soldados alemães. A cinco quilos de gordura acrescentavam-se dez litros de água e um quilo de soda cáustica a mistura era fervida numa caldeira durante três horas juntava-se uma pitada de sal levantava-se fervura e deixava-se arrefecer até formar uma crosta que era retirada cortada aos bocados e levada ao lume de novo e antes de arrefecer juntava-se um líquido especial para que o sabão não cheirasse mal. Em Gdansk um soldado alemão enlouqueceu porque antes da guerra tinha tido uma amante que não soubera que era judia e que depois fora levada para Auschwitz e os amigos lhe tinham dito a brincar que esse sabão com que já havia uma semana que se ensaboava era feito dessa amante que o sabiam pelo director da morgue de Gdansk para onde eram levados os cadáveres para deles se fazer sabão. Quanto ao soldado em seguida tiveram de o levar para um manicómio na Alemanha.”

Patrik Ouředník, “Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 33-34, Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.

16/10/2018

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Coimbra, 16 de Outubro de 1945 Uma cobra de água numa poça do choupal, a gozar o resto destes calores, e umas meninas histéricas aos gritinhos, cheias de saber que o bicho era tão inofensivo como uma folha.
Por fidelidade a um mandato profundo, o nosso instinto, diante de certos factos, ainda quer reagir. Mas logo a razão acode, e o uivo do plasma acaba num cacarejo convencional. Todos os tratados e todos os preceptores nos explicaram já quantas espécies de ofídios existem e o soro que neutraliza a mordedura de cada um. Herdamos um mundo já quase decifrado, e sabemos de cor as ervas que não devemos comer e as feras que nos não podem devorar. Vivemos numa paz de animais domésticos, vacinados, com dentes caninos a trincar pastéis de nata, tendo aos pés, submissos, os antigos pesadelos da ignorância. Passamos pela terra como espectros, indo aos jardins zoológicos e botânicos ver, pacata e sàbiamente, em jaulas e canteiros, o que já foi perigo e mistério. E, por mais que nos custe, não conseguimos captar a alma do brinquedo esventrado. O homem selvagem, que teve de escolher tudo, de separar o trigo do joio, de mondar dos seus reflexos o que era manso e o que era bravo, esse é que possui verdadeiramente a vida e o mundo. Diante duma natureza inteira e una, também ele tinha necessàriamente de ser inteiro e uno. Sem amigos e sem vizinhos, sòzinho contra as árvores e contra as sombras, ele era uma fortaleza em si, tendo na própria pele as ameias. Que totalidade a de um ser que não pode confiar senão em si! Socialmente, seremos assim (e somos, certamente) mais fáceis de conduzir, mais úteis, mais progressivos. Mas, individualmente, a que distância estamos de um homem das cavernas! Que tamanho o dele, a caçar bisões, e que pequenez a nossa, a ganhar taças em torneios de tiro aos pombos!
O nosso gritinho de horror diante de qualquer lesma dá bem a perdição a que chegámos. Civilizámo-nos, mas à custa da nossa mais profunda integridade, dispersando-nos nas coisas que fomos desvendando.
Na cobra de hoje ninguém viu sinceramente veneno ou orte. Vimos todos, sim, o manual que aprendemos no liceu. E o estremecimento das meninas histéricas, eco delido do uivo profundo de pavor e de incerteza dos nossos antepassados, foi dum ridículo tal que respingou outros aspectos e outros recantos da existẽncia. Que espécie de sinceridade profunda, de lealdade incontroversa, haverá, por exemplo, em acreditar em Deus com a bomba atómica na mão?
É bem que o homem faça todas as experiências, inclusivamente consigo. Que liberte a energia das pedras e se liberte também a si de todas as clausuras. Mas os instintos? Poderá, na verdade, ele viver desfalcado dessa força que o fechava como um punho e lhe dava uma coesão igual à dos átomos antes de serem bombardeados? Pelo caminho que levamos, um dia virá em que tudo em nós será consciência, compreensão e sabedoria. Mas nessa mesma hora estaremos desmpregados no mundo. Todos os saberemos resolver a equação da vida na ardósia negra onde dantes eram as trevas da nossa virgindade criadora, mas talvez já não haja vida, então.

Miguel Torga, “Diário III”, pp. 129-131, 1954, Coimbra.

14/10/2018

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Coimbra, 14 de Outubro de 1945 Estes novos fazem-me de fel e vinagre, e eu reajo, claro. Mas reajo só por fora. Sou humano, e não é agradável ouvir certos assobios. Por dentro, porém, estou inteiramente com eles. Com quem hei-de estar eu, senão com quem tem a natureza pelo seu lado? Mesmo que façam maus versos e péssima prosa, eles é que têm vinte anos, é que vão trazer ao mundo a sua primavera de agora. E eu, a dizer que não, bebo-lhes as palavras, espreito-lhes os gestos, acompanho-os em todas as suas aventuras, solidário com a verdade que não sabe cantar nem descrever, mas que está espelhada na sua mocidade. Sei, de resto, que a função de uma árvore nova não é dar bons frutos, mas irradiar confiança. No pomar onde já todos os pólens se cruzaram, é ela que traz a virgindade de uma promessa. Às vezes sai cereja bichosa. Paciência. O seu corpo foi morada de uma inquietação, e, enquanto o foi, teve a flâmula azul da vida a drapejar nos seus ramos.
O facto de eu existir, é um argumento sólido para eu não abdicar; mas o facto de um jovem existir ao meu lado, é um argumento para uma conclusão mais sólida ainda: que a própria vida não abdicou, e que é preciso ser-lhe fiel, acompanhando-a na sua esperança..

Miguel Torga, “Diário III”, pág. 128, 1954, Coimbra.

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Coimbra, 14 de Outubro de 1942 – (…) Vêem um pobre lírio a contar uma anedota como nunca ouviram, a segredar-lhes um piedoso galanteio como nunca nenhum namorado lhes disse, e no fim vem isto:

– Que fantástico o senhor está hoje! Nem parece poeta!


Miguel Torga, “Diário II” 3ª ed. Revista, pág. 69, Coimbra Editora, 1960.