07/07/2018

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Roger Vailland
“Nada é mais oposto ao libertino do que aquilo a que chamamos o femeeiro ou pinga-amor.
Tal como a vítima do amor-paixão, o femeeiro é escravo de uma obsessão. Qualquer que seja a «pessoa do sexo», a perspectiva vagamente entrevista de um consentimento basta para provocar nele esta mobilidade dos humores, esta fermentação glandular, esta subversão orgânica total que metamorfoseia a maior parte das espécies animais em vésperas de acasalamento e que arranca as enguias aos pântanos das estepes para as núpcias fabulosas que decorrerão no mar dos Sargaços.
Mesmo quando julga possuir, o femeeiro é possuído. Isto porque a sua perpétua sofreguidão o inclina para o mais fácil. Os trabalhos de aproximação que impõe o cerco da virtude exasperam a sua impaciẽncia. Como aqueles conquistadores que só atacam as nações minadas por lutas intestinas, ele toma apenas as praças fortes que desejam ser conquistadas.
O libertino, pelo contrário, escolhe. É a ele que convém o epíteto difícil que a linguagem corrente outorga às virtudes obstinadas. Ele é tanto mais difícil quanto o seu gosto está mais completamente educado. É na severidade da sua escolha que reside a virtude que lhe é própria.”

Roger Vailland, “Esboço Para Um Retrato do Verdadeiro Libertino”, pp. 16-17, &etc, Lx, 1976. trad. Vitor Silva Tavares.

Roger Gilbert-Leconte, Roger Vailland, René Daumal et Robert Meyrat

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