04/01/2020

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Seria um homem que caminhava à minha frente? Nos povos que vivem nus, tal como com os animais, a diferença entre os sexos é bem menos evidente que nos nossos climas. Nós acentuamos a fraqueza da mulher poupando-a a esforços, ou seja, às ocasiões de evolução, e moldamos a mulher segundo um padrão ideal de graciosidade.
No Taiti, o ar da floresta ou do mar fortifica todos os pulmões, alarga todos os ombros, todas as ancas, e o cascalho da praia não poupa nem homens nem mulheres. Estas fazem os mesmos trabalhos que eles e estes possuem a indolência delas: elas têm qualquer coisa de viril e eles algo de feminino. Essa semelhança entre os dois sexos facilita as relações, torna perfeitamente pura a nudez perpétua, eliminando dos costumes qualquer ideia de desconhecido, de privilégios misteriosos, imprevistos ou furtos felizes – todo aquele abandono sádico, todas aquelas cores vergonhosas e furtivas do amor junto dos civilizados.
Porquê essa atenuação das diferenças entre os dois sexos, que, nos «selvagens», fazendo do homem e da mulher tanto amigos como amantes, afasta deles a própria noção de vício, de súbito a evocava um velho civilizado, com o terrível prestígio do novo, do desconhecido?”
Paul Gauguin, “Noa-Noa – Estada em Taiti”, pp. 48-49, Publicações Europa-América, 1998. Trad. Jacqueline Medeiros.

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