Coimbra,
3 de Dezembro de 1937
– Por
mais que faça, não faço nada. Enrodilho-me como
as cobras nas matas, sofro, mordo se alguém me toca, e assobio de
vez em quando uma ária que ninguém ouve. É de mim, é dos outros,
é dos tempos que vão correndo. Mas hei-de morrer assim.
Tenho cá uma fé comigo que ainda há-de aparecer na minha vida
alguém que me conte esta história do Erico Veríssimo:
–
Filho. Sabe da história do pirú? La gente risca com giz um circolo
in torno do pirú. E o cretino do pirú crede que está prêso. –
Guarda… la vita é bela, il mondo te chiama. Salta o risco de giz,
no seja come o pirú!
Miguel
Torga, “Diário I”, pág. 48, 1941, Coimbra.
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