“Sabugueiro,
27 de Setembro de 1949
–
Nada, meu Senhor! Acredite: Ninguém tece um fio…
Que tristeza não poder visitar uma aldeia do país sem que o povo se
alvoroce a cuidar que é o fisco que o vem desgraçar! Que velha e
dolorosa chaga de perseguição a doer-lhe na memória! Nunca o
visitaram com amor. Sempre o procuraram para o enganar, mentindo-lhe
na religião, no ensino, na economia, na assistência. Por isso
continua a espreitar-nos dos buracos como um bicho perseguido, e é
com alívio que nos vê partir – a nós, seus irmãos, filhos da
mesma terra!
O espelho da nossa traição de civilizados são as aldeias de
Portugal.”
Miguel
Torga, “Diário V”
2ª ed. Revista, pág. 51, Coimbra Editora, 1955.
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