“O
modo de jogar com a linguagem absolve de toda a classe de desvarios,
como põe em relevo a miséria intelectual de muitos pretensiosos sem
fundamento, e isso de forma que o leitor se interessa igualmente pelo
bom e pelo mau, e encontra especial satisfação em lhes fazer a
síntese.
Três
exemplos:
1.º
Explorador incansável da mentira poética; aventureiro audaz do
campo das ideias; criador inexaurível de imagens resplandecentes; o
mundo em que se move é o puro espelho da sua sensibilidade e da sua
inteligência: não conhece limites e jamais enfastia.
2.º
Há neste escritor muita fantasia premeditada, arranjada, combinada
adrede para produzir efeitos de ordem puramente literária, mas
salva-se pelo fundo de genuíno lirismo em que todos os seus bordados
assentam.
3.º
A existência, a descoberta, de criatura assim tão supinamente besta
não nos deve causar indignação, mas consumado júbilo. É como se
víssemos agora aparecer completo, vivo, perfeito, um desses monstros
fabulosos, da idade pré-histórica, de que um só osso constitui a
glória de museus famosos.
Mas
não será isto um enigma, uma adivinhação, própria para ser posta
a concurso na grande imprensa? O leitor que lhe ponha os nomes certos
e ganha… um folar para a Festa.”
M.
Teixeira-Gomes,
“2.ª Parte de Miscelânea – Carnaval Literário”, pp. 31-32,
Livraria Bertrand, 3.ª ed., 1993.
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