“O
grosso dos contratos de aforamento, arrendamento ou compra-e-venda
dos séculos X, XI e XII mencionam pagamento em géneros, muitas
vezes combinado com dinheiro. Nem o Conde D. Henrique nem D. Teresa
julgaram necessário cunhar moeda, embora o pudessem ter feito.
Circulavam os dinheiros de bilhão leoneses, juntamente com o dinar
de ouro e o
dirham
de prata islâmicos e até
nomismata
áureos de Bizâncio. Afonso Henriques, cujo longo reinado implicou
acréscimo de fortuna, desenvolvimento do comércio e necessidade de
prestígio, fez cunhar os primeiros morabitinos de ouro portugueses,
que copiavam em tamanho e em valor, assim como em nome (morabitino
vem de al-Murabitun,
o dinheiro dos Almorávidas), o seu modelo muçulmano. Cunhou também
dinheiros de bulhão e porventura meios-dinheiros ou mealhas da mesma
liga. Este duplo aspecto monetário espelhava com muita precisão a
integração económica de Portugal, compromisso entre a influência
meridional (muçulmana) e a origem setentrional (cristã). O comércio
português nascera da viabilidade das correntes de intercâmbio,
tanto com Leão como com o mundo islâmico (mais exactamente o reino
de Badajoz). Portugal, porém, não tinha ainda muito que oferecer em
troca. Foi, assim, vagarosamente, que esse comércio se desenvolveu.
Pelos fins do século XI, já se mencionavam mercados em diversas
cidades e aldeias, mas as primeiras feiras só surgiram nos finais da
centúria seguinte, se esquecermos o exemplo único da feira de Ponte
de Lima, criada antes de 1125.
Em
torno dos castelos do Porto, Guimarães, Constantim de Panóias,
Mesão Frio, Gaia e outros, assim como em redor de alguns mosteiros
fortificados, foram-se juntando pequenas colónias de mercadores. Nas
«cidades» (Braga, Coimbra, Lamego, Viseu, Chaves) viviam outros
mercadores. É possível que Coimbra desempenhasse, neste caso, um
papel de relevo, próxima que estava do território muçulmano. Foi
também em Coimbra, pouco antes de 1111, que se registou a única
revolta «comunal» de que temos notícia, obrigando o Conde D.
Henrique a conceder-lhe novo e mais favorável foral.”
A.
H. de Oliveira Marques, “História
de Portugal – Desde os tempos mais antigos até ao governo do Sr.
Palma Carlos”, 4.ª ed., pág. 83, Ed. Palas Editores, Lisboa,
1974.
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