“A
ideia de deportar os Judeus para Madagáscar tinha surgido pela
primeira vez em 1905 no livro de um exegeta vienense que tinha
estudado o Velho Testamento e zoologia e inventado uma especialidade
chamada teozoologia. E tinha chegado à conclusão de que Deus não
existia e que o mundo tinha sido criado por deuses que eram da mesma
estirpe que os humanos mas que sabiam emitir sinais eléctricos e
dominavam a telapatia e eram imortais e espirituais e que com o
avançar do tempo tinham começado a cruzar-se com os seres humanos e
os animais e se tinham tornado mortais. E dizia que quem estava mais
próximo dos deuses e da primeira geração dos homens divinos eram
os Arianos nos quais ainda se podiam detectar vestígios da força
electrónica e dos neutrões telepáticos e propunha a deportação
dos Judeus para Madagáscar e o estabelecimento na Alemanha de
ZUCHTKLÖSTER
de conventos de criação onde mulheres alemãs seriam fecundadas por
machos arianos e assim haveria de se recriar pela selecção genética
o Homem-deus que iria
comunicar telepaticamente pela força do pensamento e das descargas
eléctricas. Os nazis acabaram por concluir que a deportação para
Madagáscar iria custar dinheiro que seria necessário para custear o
esforço de guerra e em 1942 decidiram que a partir daí a solução
final iria consistir no extermínio dos Judeus por todos os meios ao
seu dispor.”
Patrik
Ouředník,
“Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 42-43,
Antígona Editores
Refractários, Lisboa, 2017.
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