18/11/2018

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“A ideia de deportar os Judeus para Madagáscar tinha surgido pela primeira vez em 1905 no livro de um exegeta vienense que tinha estudado o Velho Testamento e zoologia e inventado uma especialidade chamada teozoologia. E tinha chegado à conclusão de que Deus não existia e que o mundo tinha sido criado por deuses que eram da mesma estirpe que os humanos mas que sabiam emitir sinais eléctricos e dominavam a telapatia e eram imortais e espirituais e que com o avançar do tempo tinham começado a cruzar-se com os seres humanos e os animais e se tinham tornado mortais. E dizia que quem estava mais próximo dos deuses e da primeira geração dos homens divinos eram os Arianos nos quais ainda se podiam detectar vestígios da força electrónica e dos neutrões telepáticos e propunha a deportação dos Judeus para Madagáscar e o estabelecimento na Alemanha de ZUCHTKLÖSTER de conventos de criação onde mulheres alemãs seriam fecundadas por machos arianos e assim haveria de se recriar pela selecção genética o Homem-deus que iria comunicar telepaticamente pela força do pensamento e das descargas eléctricas. Os nazis acabaram por concluir que a deportação para Madagáscar iria custar dinheiro que seria necessário para custear o esforço de guerra e em 1942 decidiram que a partir daí a solução final iria consistir no extermínio dos Judeus por todos os meios ao seu dispor.”

Patrik Ouředník, “Europeana – uma breve história do século XX”, pp. 42-43, Antígona Editores Refractários, Lisboa, 2017.

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