Fora
os livros não vejo
muita outra coisa
a que possa
chamar
minha propriedade
a gilete? O pente
imitação
tartaruga? a tesoura
das unhas?
nem mesmo a roupa
enchendo todo um
armário
que se queima com
o suor
gasta rasga
desfia em pouco
tempo
condenada
por um corpo
infeliz
e quando nova a
estrear
faria talvez já
as delícias do
adelo
álbuns de fotos?
estojo
caneta-lapiseira?
pesa-papéis
deitando a sua
neve falsa
sobre o castelo
alemão?
inclusive o carro
envelhece mês a
mês
sem uso: o prazer
de guiar
é coisa dos
anúncios
e a gasolina cara
e para quê
tirá-lo da rua
para arrumá-lo
aonde?
guiem agora as
filhas
Lisboa,
15.2.94
Vilagarcía
de Arousa, 31.8.95
Inédito de
Fernando Assis Pacheco, na revista Espácio / Espaço Escrito –
revista de literatura en dos lenguas, número 15 y 16, pp. 27-8,
Badajoz, 1998.
José Cardoso Pires, A. Guerra, Assis Pacheco. Aniversário de 'O Jornal', 21 de Maio de 1982. |
Às
prostitutas da Avenida da Liberdade:
Eu vi gelar as
putas da Avenida
ao griso de
Janeiro e tive pena
do que elas
chamam em jargão a vida
com um requebro
triste de açucena
vi-as às duas e
às três falando
como se fala
antes de entrar em cena
o gesto já
compondo à voz o mando
do director fatal
que lhe ordena
essa pose de flor
recém-cortada
que para as mais
batidas não é nada
senão fingirem
lírios da Lorena
mas a todas o
griso ia aturdindo
e eu que do
trabalho vinha vindo
calçando as
luvas senti tanta pena
Fernando Assis
Pacheco, in revista Espácio / Espaço Escrito – revista de
literatura en dos lenguas, número 15 y 16, pág. 17, Badajoz, 1998.
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