I
Entre os homens e as
humanidades,
de mim mesma
alheada, cambaleio
a bordo de conceitos
que não colam
e de esmolas que já
não me alimentam.
À deriva, faço
vénias, faço figas
– longo jogo da
macaca nos passeios,
breve jogo da glória
nas calçadas
ou da mão que ainda
bate morta
mas não toca àquela
porta
por ter medo da
batota.
Se mulher entre os
homens, quase vírus,
se homem entre
fêmeas, mutilada
se menina entre
adultos, quase bicho
se adulta entre
crianças, acossada.
Por isso me lançam
à sarjeta,
me atiram às
urtigas e eu me coço,
recordando a doçura
de hortelã
que sarava quando
ardia este meu corpo.
Regina Guimarães,
“Lady Boom – as rainhas”, p. 3, ed. Hélastre, Porto, 2009.
REPÚBLICA
Despido o orgulho
obscuro
da noite boa
conselheira,
algo paira mais
leve:
uma aura sem
disfarce de aurora,
uma ruga de sorriso
longe da boca,
uma mão plantada
onde fora árvore
e um cheiro de
lençol no mastro da bandeira.
Se aceito sem
escolha de arma,
este duelo, este
dueto de rajadas,
onde sou testemunha
e adversária,
é por natura me ter
avariado
até me tornar
inelutável,
lutadora,
vária.
Regina Guimarães,
“Cantigas de Amigo”, p. 18, ed. Hélastre, Porto, 2009.
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