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Charles Bukowski |
04/10/2015
28/09/2015
...
SIMPATIA COM BRANCO MAIOR
Quando atiro quatro cubos de gelo
Tilintando para um copo, e acrescento
Três doses de gin, limão em rodela,
Mais um quarto de tónica, que verto
Espumando até que afogue, jorro a jorro,
Tudo o resto, até às bordas do copo,
Ergo a bebida no silêncio de um voto:
Ele dedicou a sua vida aos outros.
Enquanto outros usavam como roupas
Os seres humanos no seu dia-a-dia
Eu empenhei-me em mostrar, a quem me cria
Capaz de o fazer, as montras perdidas;
Não resultou, com eles ou comigo,
Mas todos assim ficaram mais próximos
(Ou tal se pensou) de todo o imbróglio
Do que se o perdêssemos cada um por si.
Boa pessoa, um fulano às direitas,
Sempre na linha, um tipo impecável,
Um ás, o máximo, um gajo porreiro,
Não lhe chegavam nem aos calcanhares;
Que chata teria sido esta vida
Se ele não tivesse andado por cá;
Um brinde, que alma mais branca não há! –
Não sendo embora o branco a minha cor preferida.
Philip Larkin, “Janelas Altas”, pág. 31, Edições Cotovia, Lisboa, 2004.
Tradução de Rui Carvalho Homem.
Quando atiro quatro cubos de gelo
Tilintando para um copo, e acrescento
Três doses de gin, limão em rodela,
Mais um quarto de tónica, que verto
Espumando até que afogue, jorro a jorro,
Tudo o resto, até às bordas do copo,
Ergo a bebida no silêncio de um voto:
Ele dedicou a sua vida aos outros.
Enquanto outros usavam como roupas
Os seres humanos no seu dia-a-dia
Eu empenhei-me em mostrar, a quem me cria
Capaz de o fazer, as montras perdidas;
Não resultou, com eles ou comigo,
Mas todos assim ficaram mais próximos
(Ou tal se pensou) de todo o imbróglio
Do que se o perdêssemos cada um por si.
Boa pessoa, um fulano às direitas,
Sempre na linha, um tipo impecável,
Um ás, o máximo, um gajo porreiro,
Não lhe chegavam nem aos calcanhares;
Que chata teria sido esta vida
Se ele não tivesse andado por cá;
Um brinde, que alma mais branca não há! –
Não sendo embora o branco a minha cor preferida.
Philip Larkin, “Janelas Altas”, pág. 31, Edições Cotovia, Lisboa, 2004.
Tradução de Rui Carvalho Homem.
22/09/2015
08/09/2015
Livraria Utopia...
03/09/2015
02/09/2015
Feira do Livro do Porto...

A Livraria Utopia vai representar as edições:
&etc - Edições Culturais do Subterrâneo.
Letra Livre - Edições da Livraria Letra Livre.
Edições Averno.
Edições Alambique.
Edições 50Kg.
Edições Antipáticas.
Edições Sismógrafo - Salto no Vazio Associação Cultural.
E ainda uma escolha das obras da livraria, com destaque para as temáticas de Política, História e Poesia.
29/08/2015
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Pitigrilli (Dino Segre) |
“(...) o leitor
desprovido de idéias, ou que as tem no estado amorfo, ao escontrar
uma frase pitoresca, fosforescente, explosiva, apaixona-se por ela,
adota-a, comenta-a com um ponto de admiração, com um: “Muito
bem!”, ou um “Justamente!”, como se ela lhe exprimisse
rigorosamente a quinta essência do seu pensamento, do seu sistema
filosófico. O leitor - “toma posição” - como dizia o Duce."
Pitigrilli,
“Dicionário Antiloroteiro”, p. 181, Editôra Vecchi, Rio de
Janeiro, 1956.
“Ai de mim! É
doloroso, mas cumpre confessá-lo: depois de exercer por certo tempo
êste nosso ofício, as palavras chegam a nos dar nojo.”
Pitigrilli,
“Dicionário Antiloroteiro”, p. 183, Editôra Vecchi, Rio de
Janeiro, 1956.
28/08/2015
Anedota atribuída a Henrique IV e a Napoleão III...
Um monarca perguntou a uma jovem dama de honor:
– Por onde se entra no seu quarto?
– Pela igreja, Majestade – respondeu a môça.
Pitigrilli, "Dicionário Antiloroteiro", p.185, Editora Vecchi, Rio de Janeiro, 1956.
– Por onde se entra no seu quarto?
– Pela igreja, Majestade – respondeu a môça.
Pitigrilli, "Dicionário Antiloroteiro", p.185, Editora Vecchi, Rio de Janeiro, 1956.
26/08/2015
25/08/2015
22/08/2015
...
CHRISTOPHER MARLOWE
vem de preto que eu sacudo-te e volvo-te sem opacos e gatilhos
vem rodeado de gente, faunas, floras que eu sacudo tudo isso em cinza
eu aspiro todo o contexto com o meu Ufesa 1800w
nem 1 ácaro contextual
nem as fezes contextuais de nenhum parasita contextual
Sandra Andrade, “Para Acabar de Vez com a Retórica”, p. 41, &etc, 2014.
vem de preto que eu sacudo-te e volvo-te sem opacos e gatilhos
vem rodeado de gente, faunas, floras que eu sacudo tudo isso em cinza
eu aspiro todo o contexto com o meu Ufesa 1800w
nem 1 ácaro contextual
nem as fezes contextuais de nenhum parasita contextual
Sandra Andrade, “Para Acabar de Vez com a Retórica”, p. 41, &etc, 2014.
21/08/2015
14/08/2015
07/08/2015
«COMO SE FEZ O LUÍS DE CAMÕES»...
COMO
SE FEZ O LUÍS
DE CAMÕES
Dum
velho engaço do meu avô roubei dos dentes
O
prego que na terra conquistaria
os continentes
E
por trás da escola no tempo do recreio grande
Tirei-o
das meias onde o levava – tipo sande.
Na
parede afiámo-lo para que espetasse fundo
E
c’o calcanhar da bota desenhei
o
mapa-mundo
Do
alto da
canalhice lembro-me de rimar com cu
A
caravana que passava em campanha pela APU
Eu
matutava – Moscovo, Jamaica ou Índia?
Tomando
cidades por países que confundia
E
enquanto me decidia a escolher o meu
país
Quem
já por ali arava terreno era o grande Luís
Chutava
as pedras para limpar o círculo na terra
E
as botas ensebadas não chegavam à Primavera
Cuspia
na mão porque afinava a pontaria
Cuspia
no chão porque a terra também bebia
Estava
o Luís a
unir
os furos do prego cravado de pé
Quando
me voltei acenando com a eureka da América
Vi
o Luís agarrado ao olho dizendo que ressaltou numa pedra
Oh
grande merda! Chamou-se professora e ambulância
Da
coça e castigo ganhei amnésia advento da circunstância
E
foi assim que
o Luís ficou um
Camões tal e qual
Repetente
até no país que
era sempre Portugal.
“No
Jogo das Nações, desenhava-se no chão um grande círculo,
simbolizando o globo universal. Dividia-se este círculo em nações,
tantas quantos os jogadores intervenientes. A ordem para cada jogador
jogar, era também a distância a que ficavam da linha traçada no
chão. Começava-se sempre no território ao lado, fosse da direita
ou da esquerda.
Por
cada espetadela, traçava-se uma linha conforme a inclinação do
espeto. O anexado escolhia a parte restante e saía do jogo quando no
seu território já não lhe cabia um pé. Por sua vez o jogador
quando perdia apagava todo o território conquistado, retornando à
fase inicial. Ganhava quem conquistava o Mundo todo”
«OS SAPATOS»...
1
Enfio os mocassinos do meu tempo nos pés
e piso a senda lenda dos meus antepassados.
Hoje, sou eu que passo o cabo das tormentas nos cafés
quando vomito a Índia nos lavabos.
Se Egas Moniz foi herói
duma bravata bonita
eu sou quem paga o resgate
da história que me limita
A linda Inês dos meus olhos
foi reposta em seu sossego
não há hidroenergia
que ressuscite o Mondego
não há barragem que estanque
o nosso caudal de medo
não há sonho que levante
o sonho que é hoje infante
na ponta de um pesadelo.
Ai flores Ai flores de lapela
flores de plástico e feltro
filigrana caravela
que estás cada vez mais perto
filha de Vasco da Gama
dado como pai incerto.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo
tão andados tão modernos
tão vazios de sentido
tão queimados deste inferno
que têm as solas gastas
e o caminho puído.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo:
passeiam
andam
desandam
param
perseguem
persistem
caminham
calculam
correm
doem detêm desistem.
Partem tão tristes os tristes
tão fora de chegar bem!
2
Lá vem o teddy-poeta
que não tem nada a dizer
filho família do mar
que lhe morreu ao nascer
parasita das palavras
que tem no banco a render
e se gastam, como a voz
dum povo que vai morrer.
Lá vem o tédio-poeta
que não tem nada a perder:
Vem numa hora de bruma
depois do café com leite
depois do banho de espuma
que lava o sal e o cheiro
a fingir que se levanta
dum leito de nevoeiro.
Chega de Alcácer Quibir
com escorbuto na alma
e morre, mas devagar,
neste mar-asma de calma.
JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS, “Resumo”, pp. 40-2, Lisboa, 1972.
Enfio os mocassinos do meu tempo nos pés
e piso a senda lenda dos meus antepassados.
Hoje, sou eu que passo o cabo das tormentas nos cafés
quando vomito a Índia nos lavabos.
Se Egas Moniz foi herói
duma bravata bonita
eu sou quem paga o resgate
da história que me limita
A linda Inês dos meus olhos
foi reposta em seu sossego
não há hidroenergia
que ressuscite o Mondego
não há barragem que estanque
o nosso caudal de medo
não há sonho que levante
o sonho que é hoje infante
na ponta de um pesadelo.
Ai flores Ai flores de lapela
flores de plástico e feltro
filigrana caravela
que estás cada vez mais perto
filha de Vasco da Gama
dado como pai incerto.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo
tão andados tão modernos
tão vazios de sentido
tão queimados deste inferno
que têm as solas gastas
e o caminho puído.
Partem tão tristes os pés
de quem te arrasta consigo:
passeiam
andam
desandam
param
perseguem
persistem
caminham
calculam
correm
doem detêm desistem.
Partem tão tristes os tristes
tão fora de chegar bem!
2
Lá vem o teddy-poeta
que não tem nada a dizer
filho família do mar
que lhe morreu ao nascer
parasita das palavras
que tem no banco a render
e se gastam, como a voz
dum povo que vai morrer.
Lá vem o tédio-poeta
que não tem nada a perder:
Vem numa hora de bruma
depois do café com leite
depois do banho de espuma
que lava o sal e o cheiro
a fingir que se levanta
dum leito de nevoeiro.
Chega de Alcácer Quibir
com escorbuto na alma
e morre, mas devagar,
neste mar-asma de calma.
JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS, “Resumo”, pp. 40-2, Lisboa, 1972.
06/08/2015
04/08/2015
...
Voyelles
A noir, E blanc, I rouge, U vert, O bleu : voyelles,
Je dirai quelque jour vos naissances latentes:
A, noir corset velu des mouches éclatantes
Qui bombinent autour des puanteurs cruelles,
Golfes d’ombre ; E, candeurs des vapeurs et des tentes,
Lances des glaciers fiers, rois blancs , frissons d’ombelles;
I, pourpres , sang craché, rire des lèvres belles
Dans la colère ou les ivresses pénitentes;
U, cycles, vibrementes divins des mers virides,
Paix des pâtis semés d’animaux, paix des rides
Que l’alchimie imprime aux grands fronts studieux;
O, suprême Clairon plein des strideurs étranges,
Silences traversés des Mondes et des Anges:
― O l’Oméga , rayon violet de Ses Yeux!
Arthur Rimbaud, 1871
RIMBAUD, Arthur. Poésies complètes. Paris: Librairie Générale Française, 2009.
CAMPOS, Augusto. Rimbaud Livre. São Paulo: Perspectiva, 1992. Programação visual: Augusto de Campos e Arnaldo Antunes (Col. part.).
Escreve João de Deus:
Quer-se aprender a ler? Por onde se há-de começar, por letra manuscrita ou tipográfica?
A grande multiplicadora da palavra é a imprensa; de certo que pela letra tipográfica. Que letra, redonda, grifa ou gótica? Decerto pela mais frequente, que é a redonda. Mas, todo o abecedário é duplo: maiúsculo ou minúscula? Pela mais frequente, que é a minúscula. E todo o alfabeto minúsculo ao mesmo tempo? De que servem a um principiante 25 letras? Não só do que servem; como se aprendem 25 letras? Se em cada dia me mostrarem uma letra, em 25 dias posso saber 25 letras; mas, se em 50 dias me mostrarem simultâneamente 25 letras, é mais do que provável que eu não chegue a distinguí-las todas.
Logo, dessas 25 letras, escolham-se as principais. As principais são as vogais.
E poderemos nós com essas, formar palavras ou exprimir ideias ou sentimentos?
Podemos: com a, e, i, o, u, podemos formar ai, ui, eu, ía.
Pois bem, seja essa a nossa primeira lição.
Restam-nos as consoantes. Havemos de nós ir pelas consoantes fora, b, c, d, etc.? Mas 7 não têm um valor independente, isto é, não têm uma pronúncia apreciável em separado. B chamamos-lhe bê, como se podia chamar Bernardo, mas o que ela significa é os lábios pegados
Manuel Laranjeira
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