08/12/2010

A «Flânerie» no Ocidente…

O SENTIMENTO D’UM OCCIDENTAL

A Guerra Junqueiro

I

AVE MARIA


Nas nossas ruas, ao anoitecer,

Ha tal soturnidade, ha tal melancholia,

Que as sombras, o bulicio, o Tejo, a maresia

Despertam-me um desejo absurdo de soffrer.


O ceu parece baixo e de neblina,

O gaz extravasado enjôa-me, perturba;

E os edificios, com as chaminés, e a turba

Toldam-se d’uma côr monótona e londrina.


Batem os carros d’aluguer, ao fundo,

Levando á via ferrea os que se vão. Felizes!

Occorem-me em revista exposições, paizes:

Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!


Semelham-se a gaiolas, com viveiros,

As edificações sómente emmadeiradas:

Como morcegos, ao cair das badaladas,

Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.


Voltam os calafates, aos magotes,

De jaquetão ao hombro, enfarruscados, seccos;

Embrenho-me, a scismar, por boqueirões, por beccos,

Ou érro pelos caes a que se atracam botes.


E evoco, então, as chronicas navaes:

Mouros, baixeis, heroes, tudo resuscitado!

Lucta Camões no Sul, salvando um livro a nado!

Singram soberbas naus que eu não verei jámais!


E o fim da tarde inspira-me; e incommoda!

De um couraçado inglez vogam os escaleres;

E em terra n’um tinir de louças e talheres

Flammejam. Ao jantar, alguns hoteis da moda.


N’um trem de praça arengam dois dentistas;

Um tropego arlequim braceja n’umas andas;

Os cherubins do lar fluctuam nas varandas;

Ás portas, em cabello, enfadam-se os logistas!


Vasam-se os arsenaes e as officinas;

Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;

E n’um cardume negro, herculeas, galhofeiras,

Correndo com firmeza, assomam as varinas.


Vem sacudindo as ancas opulentas!

Seus troncos varonis recordam-me pilastras;

E algumas, á cabeça, embalam nas canastras

Os filhos que depois naufragam nas tormentas.


Descalças! Nas descargas de carvão,

Desde manhã á noite, a bórdo das fragatas;

E apinham-se n’um bairro aonde miam gatas,

E o peixe pôdre géra os focos de infecção!


…Continua!

Cesário Verde


Cesário foge pelos herbanários


Cesário andava na cidade com plantas

silvestres metidas na cabeça

Irrompiam-lhe nas calçadas no repuxo das fontes

no grito das varinas no trote das patrulhas


Ninguém sabe contudo que em fidelíssimo segredo

deixou outro livro do qual Silva Pinto nada soube

Nem o Caeiro da planta é uma planta é uma planta

que se apanhasse fechava-o à chave na arca


para girândolas futuras dos casmurros das Universidades

Mas nada de suspense O livro é apenas um herbário

todo rechunchudo de coisas trivialíssimas

como a receita para lavar manchas de amora nos bigodes


ou de como arrancar sem dor cucos de tojo que um dia

lhe pegaram uma coceira dos infernos Depois há folhas

e folhas amarelecidas de chuvas-de-oiro mongaricas

urzes torgas estevas-dos-saloios sarças


alecrins alfenas lentiscos e loendros

Um nunca acabar Ao lado de um esparto

a nota: tenho o pulso como um cajado de pastor

e meus dedos amadurecidos como um céu de Verão


Assim se sentimentaliza um ocidental

Confiar como? Se quando menos se precata

salta ou voa sobre a Dor humana

e as marés de fel como um sinistro mar?


Folhear o herbário é vê-lo como abria as portas

A toda a moscaria É vê-lo esquecer-se da Cólera

E da Febre Ver com deixava que a terra lhe marinhasse

Como um vinho de fogo pelo exangue corpo acima


E ver isso é bom Admirar-lhe os ouvidos

encostados ao sol à escuta que os estames

e pistilos se pusessem a ferver O pólen

a descer o corrimão da luz até cobrir de um certo oiro


a sombra pisada da sua melancolia O vinho

a espirrar numa chuva muda de palavras

Coisa estranha: o cântico de um homem

expresso em folhas secas caules flores


breves notas num herbário como: é meu irmão

o entrecasco de sobro bom para a taninagem

As maçãs de espelho não andam bem empapeladas

Fica-lhes mal o verde e a serradura


Alexandre Pinheiro Torres in O Ressentimento dum Ocidental, Moraes editores, col. Círculo de Poesia, 1981

28/11/2010

Viagens

"Que viaje à roda do seu quarto quem está à beira dos Alpes, de Inverno, em Turim, que é quase tão frio como Sampetersburgo - entende-se. Mas com este clima, com este ar que Deus nos deu, onde a laranjeira cresce na horta, e o mato é de murta, o próprio Xavier de Maistre, que aqui estivesse, ao menos ía até o quintal."

Almeida Garrett in "Viagens na Minha Terra".

21/11/2010

De Lapidar...


O
meu 1.º amor foi um caramelo
abri-lhe a boca e comi-lhe os dentes
tirei-lhe a pele e chupei-a
dei-lhe palmadinhas
e ele lambeu-me.
Depois amei a caixa de lata
que era azul e vermelha por fora e
dourada por dentro. Via-me nela
como num céu e a luz.
A voz da caixa.

Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.


MÃOS

um mole cedia
macia era aquela pele que agarrava
os pêlos

Madalena no escuro
a melhor
a mais simples

no silêncio na pele agarrava
a minha
a dela
toda

calças
dedos
aplicados
enrolei

a mama toda aberta
os dedos depois
como nuvem

a palma e os dedos
por cima
sem forma

os dedos
um no outro tocando-se
de cima
de mim
redonda

no escuro
na vulva
cedendo

peles escorregando
líquido
largo

sob o dedo encontro
a carne

sentem pelos nós
as unhas
nascentes

minúsculas
chupando o dedo
as nádegas minúsculas

o dedo descaindo
apontado
exterior

Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.





UM DIA

Encimento o tijolo para dentro
ouvindo um pio, no ar cinzento.
Junto ao solo observo ao longe,
o dia em roda.

Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.

BIBLIOGRAFIA INCOMPLETA & sem catálogos:
  • Raso Como o Chão, Editorial Estampa, Agosto de 1977.
  • Porque Morreu Eanes, Editorial Estampa, Abril de 1978.
  • Barulheira, Edições &etc, 1982.
  • Balança, Frenesi, Abril de 1985.
  • Sequências Narrativas Completas, Assírio & Alvim, Setembro de 1994.

04/11/2010

Por que não existe um poema mais tipográfico...

MANUCURE de Mário Sá-Carneiro

Na sensação de estar polindo as minhas unhas,
Súbita sensação inexplicável de ternura,
Tudo me incluo em Mim – piedosamente.
Entanto eis-me sozinho no Café:
De manhã, como sempre, em bocejos amarelos.
De volta, as mesas apenas – ingratas
E duras, esquinadas na sua desgraciosidade
Bocal, quadrangular e livre-pensadora...
Fora: dia de Maio em luz
E sol – dia brutal, provinciano e democrático
Que os meus olhos delicados, refinados, esguios e citadinos
Nem podem tolerar – e apenas forcados
Suportam em náuseas. Toda a minha sensibilidade
Se ofende com este dia que há-de ter cantores
Entre os amigos com quem ando às vezes –
Trigueiros, naturais, de bigodes fartos –
Que escrevem, mas têm partido político
E assistem a congressos republicanos,
Vão às mulheres, gostam de vinho tinto,
De peros ou de sardinhas fritas...
E eu sempre na sensação de polir as minhas unhas
E de as pintar com um verniz parisiense,
Vou-me mais e mais enternecendo
Até chorar por Mim...
Mil cores no Ar, mil vibrações latejantes,
Brumosos planos desviados
Abatendo flechas, listas volúveis, discos flexíveis,
Chegam tenuamente a perfilar-me
Toda a ternura que eu pudera ter vivido,
Toda a grandeza que eu pudera ter sentido,
Todos os cenários que entretanto Fui...
Eis como, pouco a pouco, se me foca
A obsessão débil dum sorriso
Que espelhos vagos reflectiram...
Leve inflexão a sinusar...
Fino arrepio cristalizado...
Inatingível deslocamento...
Veloz faúlha atmosférica...

E tudo, tudo assim me é conduzido no espaço
Por inúmeras intersecções de planos
Múltiplos, livres, resvalantes.

É lá, no grande Espelho de fantasmas
Que ondula e se entregolfa todo o meu passado,
Se desmorona o meu presente,
E o meu futuro é já poeira...

Deponho então as minhas limas,
As minhas tesouras, os meus godets de verniz,
Os polidores da minha sensação –
E solto meus olhos a enlouquecerem de Ar!
Oh! poder exaurir tudo quanto nele se incrusta,
Varar a sua Beleza – sem suporte, enfim! –
Cantar o que ele revolve, e amolda, impregna,
Alastra e expande em vibrações:
Subtilizado, sucessivo – perpétuo ao Infinito!...

Que calotes suspensas entre ogivas de ruínas,
Que triângulos sólidos pelas naves partidos!
Que hélices atrás dum voo vertical!
Que esferas graciosas sucedendo a uma bola de ténis! –
Que loiras oscilações se ri a boca da jogadora...
Que grinaldas vermelhas, que leques, se a dançarina russa,
Meia nua, agita as mãos pintadas da Salomé
Num grande palco a Oiro!
– Que rendas outros bailados!



Ah! mas que inflexões de precipício, estridentes, cegantes,
Que vértices brutais a divergir, a ranger,
Se facas de apache se entrecruzam
Altas madrugadas frias...
E pelas estações e cais de embarque,
Os grandes caixotes acumulados,
As malas, os fardos – pêle-mêle...
Tudo inserto em Ar,
Afeiçoado por ele, separado por ele
Em múltiplos interstícios
Por onde eu sinto a minh'Alma a divagar!...

– Ó beleza futurista das mercadorias!

– Sarapilheira dos fardos,
Como eu quisera togar-me de Ti!
– Madeira dos caixotes,
Como eu ansiara cravar os dentes em Ti!
E os pregos, as cordas, os aros... –
Mas, acima de tudo,
Como bailam faiscantes,
A meus olhos audazes de beleza,
As inscrições de todos esses fardos –
Negras, vermelhas, azuis ou verdes –
Gritos de actual e Comércio & Indústria
Em trânsito cosmopolita:

FRÁGIL! FRÁGIL!

843 – AG LISBON


492 – WR MADRID


Ávido, em sucessão da nova Beleza atmosférica,
O meu olhar coleia sempre em frenesis de absorvê-la
À minha volta. E a que mágicas, e m verdade, tudo baldeado
Pelo grande fluido insidioso,
Se volve, de grotesco – célere,
Imponderável, esbelto, leviano...
– Olha as mesas... Eia! Eia!
Lá vão todas no Ar às cabriolas,

Em séries instantâneas de quadrados
Ali – mas já, mais longe, em losangos desviados...
E entregolfam-se as filas indestrinçavelmente,
E misturam-se às mesas as insinuações berrantes
Das bancadas de veludo vermelho
Que, ladeando-o, correm todo o Café...
E, mais alto, em planos oblíquos,
Simbolismos aéreos de heráldicas ténues
Deslumbra m os xadrezes dos fundos de palhinha
Das cadeiras que, estremunhadas em seu sono horizontal,
Vá lá, se erguem também na sarabanda...

Meus olhos ungidos de Novo,
Sim! – meus olhos futuristas, meus olhos cubistas, meus olhos interseccionistas,
Não param de fremir, de sorver e faiscar
Toda a beleza espectral, transferida, sucedânea,
Toda essa Beleza-sem-Suporte,
Desconjuntada, emersa, variável sempre
E livre – em mutações contínuas,
Em insondáveis divergências...
– Quanto à minha chávena banal de porcelana?

Ah, essa esgota-se em curvas gregas de ânfora,
Ascende num vértice de espiras
Que o seu rebordo frisado a oiro emite...

...Dos longos vidros polidos que deitam sobre a rua,
Agora, chegam teorias de vértices hialinos
A latejar cristalizações nevoadas e difusas.
Como um raio de sol atravessa a vitrine maior,
Bailam no espaço a tingi-lo em fantasias,
Laços, grifos, setas, ases – na poeira multicolor –.

APOTEOSE.
....................................................................

Junto de mim ressoa um timbre:
Laivos sonoros!
Era o que faltava na paisagem...
As ondas acústicas ainda mais a sutilizam:
Lá vão! Lá vão! Lá correm ágeis,
Lá se esgueiram gentis, franzinas corças de Alma...

Pede uma voz um número ao telefone:
Norte - 2, 0, 5, 7...
E no Ar eis que se cravam moldes de algarismos:

ASSUNÇÃO DA BELEZA NUMÉRICA



Mais longe um criado deixa cair uma bandeja...
Não tem fim a maravilha!
Um novo turbilhão de ondas prateadas
Se alarga em ecos circulares, rútilos, farfalhantes
Como água fria a salpicar e a refrescar o ambiente...


-Meus olhos extenuaram de Beleza!


Inefável devaneio penumbroso-
Descem-me as pálpebras vislumbradamente...
.........................................................................


...Começam-me a lembrar anéis de jade
De certas mãos que um dia possuí-
E ei-los, de sortilégio, já enroscando o Ar...
Lembram-me beijos -e sobem
Marchetações a carmim...

Divergem hélices lantejoulares...
Abrem-se cristas, fendem-se gumes...
Pequenos timbres de ouro se enclavinham...
Alçam-se espiras, travam-se cruzetas...
Quebram-se estrelas, soçobram plumas...


Dorido, para roubar meus olhos à riqueza,
Fincadamente os cerro...


Embalde! Não há defesa:
Zurzem-se planos a meus ouvidos, em catadupas,
Durante a escuridão -
Planos, intervalos, quebras, saltos, declives...


- Ó mágica teatral da atmosfera,
- Ó mágica contemporânea - pois só nós,
Os de Hoje, te dobramos e fremimos!
.............................................................


Eia! Eia!
Singra o tropel das vibrações
Como nunca a esgotar-se em ritmos iriados!
Eu próprio sinto-me ir transmitindo pelo ar, aos novelos!
Eia! Eia! Eia!...


(Como tudo é diferente
Irrealizado a gás:
De livres-pensadores, as mesas fluídicas,
Diluídas,
São já como eu católicas, e são como eu monárquicas!...)


......................................................................
......................................................................


Sereno,
Em minha face assenta-se um estrangeiro
Que desdobra o Matin.
Meus olhos, já tranqüilos de espaço,
Ei-los que, ao entrever de longe os caracteres,
Começam a vibrar
Toda a nova sensibilidade tipográfica.


Eh-lá! Grosso normando das manchettes em sensação!
Itálico afilado das crônicas diárias!
Corpo 12 romano, instalado, burguês e confortável!
Góticos, cursivos, rondas, inglesas, capitais!
Tipo miudinho dos pequenos anúncios!
Meu elzevir de curvas pederastas!...
E os ornamentos tipográficos, as vinhetas,
As grossas tarjas negras,
Os puzzles frívolos - e as aspas... os acentos...
Eh-lá! Eh-lá! Eh-lá!



- Abecedários antigos e modernos,
Gregos, góticos,
Eslavos, árabes, latinos -,
Eia-hô! Eia-hô! Eia-hô!...

(Hip! Hip-lá! Nova simpatia onomatopaica,
Recendente da beleza alfabética pura:
Uu-um... kess-kress... vliiim... tlin... blong… flong… flak…
Pâ-am-pam! Pam... pam... pum... pum... Hurrah!)

Mas o estrangeiro vira a página,
Lê os telegramas da Última-Hora,
Tão leve como a folha do jornal,
Num rodopio de letras,
Todo o mundo repousa em suas mãos!

-Hurrah! Por vós, indústria tipográfica!
-Hurrah! Por vós, empresas jornalísticas!




....................................................................................
....................................................................................


Tudo isto, porém, tudo isto, de novo eu refiro ao Ar
Pois toda esta Beleza ondeia lá também:
Números e letras, firmas e cartazes -
Altos-relevos, ornamentação!... -
Palavras em liberdade, sons sem-fio,

Marinetti + Picasso = PARIS < SANTA RITA PIN-
TOR + FERNANDO PESSOA
ALVARO DE CAMPOS
! ! ! !
Antes de me erguer lembra-me ainda,
A maravilha parisiense dos balcões de zinco,
Nos bares... não sei porquê...

-Un vermouth-cassis... Un Pernod à l’eau...
Un amer-citron... une grenadine…

………………………………………………..
………………………………………………..
…………………………………………………

Levanto-me…
-Derrota!
Ao fundo, em mayor excesso, há espelhos que refletem
Tudo quanto oscila pelo Ar:
Mais belo através deles,
A mais sutil destaque...
-Ó sonho desprendido, ó luar errado,
Nunca em meus versos poderei cantar,
Como ansiara, até ao espasmo e ao Oiro,
Essa beleza pura!

Rolo de mim por uma escada abaixo...
Minhas mãos aperreio,
Esqueço-me de todo da idéia de que as pintava...
E os dentes a ranger, os olhos desviados,
Sem chapéu, como um possesso:
Decido-me!
Corro então para a rua aos pinotes e aos gritos:

-Hilá! Hilá! Hilá-hô! Eh! Eh!...

Tum... tum... tum... tum tum tum tum...

VLIIIMIIIIM...


BRÁ-ÔH... BRÁ-ÔH... BRÁ-ÔH!...

FUTSCH! FUTSCH!...

ZING-TANG... ZING-TANG...
TANG... TANG... TANG...


PRÁ Á K K!...

Poemas Dispersos, Lisboa – Maio de 1915

26/10/2010

Uma ποιέω (Poiesis) do poema.



Poema

O primeiro verso é para começar,
O segundo é o penúltimo do fundo.
O terceiro dá terreno para avançar.
O quarto vai rimar com o segundo.

O quinto prega-nos uma partida.
O sexto abate os custos mais de um terço.
O sétimo é conversa distraída.
O oitavo seriíssimo. Ou o inverso.

O nono conta o mesmo por inteiro.
O décimo é, se calha, desilusão.
O undécimo é só o décimo primeiro.
O duodécimo é de nada a conclusão.

Gerrit Komrij in Contrabando: uma antologia poética, Assírio & Alvim, trad. do neerlandês de Fernando Venâncio, col. «documenta poética /101», Lx., pág.9, 2005.

11/10/2010

"à cata da melhor poesia alternativa". Hugo Xavier

Já está disponível o segundo número da revista Piolho com o subtítulo de "entre a pedra suja e o diamante de sangue" uma publicação das Edições Mortas que neste número partilha a edição com a Black Sun Editores. (Será que esta editora lisboeta está de regresso? Isso seria uma excelente notícia.)

LANÇAMENTO NO SÁBADO DIA 23 DE OUTUBRO CAFÉ PIOLHO ÁS 16H00.

Segundo número Setembro de 2010: Coordenado por Sílvia C. Silva, Meireles de Pinho (Capa e arranjo gráfico), Ricardo Álvaro, Fernando Guerreiro e A. Dasilva O.
Participações de: Mesuline de Matos, Sílvia C. Silva, Renato Filipe Cardoso, manuel a. domingos, Fernando Esteves Pinto, Zarelleci, Rui Costa, Ivar Corceiro, B. Duarte, Ricardo Álvaro, BiXinho, Raul Simões Pinto, Gilberto de Lascariz, Rui Azevedo Ribeiro, Meireles de Pinho (ilustrações), Luís Serra, Miguel Sá Marques, António S. Oliveira, Sérgio Almeida, Humberto Rocha, A. Dasilva O. e Théodore Fraenckel.

NO LANÇAMENTO DO SEGUNDO NÚMERO DA PIOLHO ESTARÁ À VENDA EXEMPLARES DO PRIMEIRO



Primeiro número Maio de 2010:
Coordenado por Sílvia C. Silva, Meireles de Pinho, Ricardo Álvaro e A. Dasilva O.
Participações de: António Barahona, Fernando Guerreiro, M. Parissy, Sílvia C. Silva, Suzana Guimarães, Teresa Câmara Pereira, Humberto Rocha, Pedro Águas, Nuno Brito, Ricardo Gil Soeiro, Raul Simões Pinto, A. Pedro Ribeiro, Miguel Martins, Zarelleci, B. Duarte, João Pereira de Matos, Ricardo Vil, Rui Costa, António S. Oliveira, Ricardo Álvaro, Meireles de Pinho, A. Dasilva O. e Jaroslav Seifert. + info Aqui ou Aqui

PIOLHO é uma revista de poesia
Uma sebenta que circula de mão em mão
Nesse charco que É o POEMA
COM NOVE BURACOS
QUE SANGRAM escárnio e maldizer
nesta época em que os poetas
se crepusculizam
António S. Oliveira

05/10/2010

Escritores Esquecidos 8

Virgílio Martinho (Lx, 1928 - Lx, 1994)

"Em 1941 houve um ciclone e eu conheci o senhorio da nossa casa. Tinha uma das pernas paralisada. Tinha uma voz que lembrava as notas mais esganiçadas da gaita de beiços. Tinha os olhos estranhamente deslocados para o lado das orelhas. Era um homem triste e viúvo. Tudo porque fora soldado da guerra de 1914-1918 e os estilhaços de um obus fizeram carambola no seu corpo, estropiando-o. Houve o ciclone e o vento arrancou algumas telhas do nosso telhado, razão porque o pai ferroviário me mandou a casa dele para lhe comunicar o sucedido e tomar providências. Fui e conheci-o. A seu mandado sentei-me na extremidade da cadeira de verga, ele sentou-se diante de mim ficando com a perna paralisada perpendicular ao corpo, dizendo eu o que tinha a dizer, perguntando ele: quantas? respondendo eu o que o pai me havia ensinado: seis e duas do beirado, foi o ciclone. Ouviu e abanou a cabeça várias vezes de cima para baixo, fixando o olho esquerdo no aparador, o direito na minha pessoa, porque a bem dizer era mais do que vesgo, tinha os olhos repuxados para os lados, como os do sapo, ocorreu-me na altura. Depois falou-me, não de telhas, de si próprio, dizendo-me com aquela sua voz: sabes, a mulher é um arrimo, um consolo; o que me deixou transido porque nunca ouvira dizer semelhante coisa. E via-o ali sentado diante de mim, com a perna doente na horizontal, pingando dos dois olhos, lamuriando que era um pobre senhorio, que perdera tudo no mundo: a perna, o sítio exacto dos olhos, a voz viril, a esposa e agora, em 1941, seis telhas e duas do beirado. Então comecei a pensar que ele não queria arranjar o nosso telhado e falei-lhe da chuva, do vento, do frio que por ali entravam, ao que me respondeu que a solidão é como um prego metido na cabeça, coisa que também nunca ouvira dizer. Foi nessa altura que olhei para tudo e vi que o retrato da esposa estava em todos os lados da saleta, repetindo-se igualzinho dentro de todas as espécies de molduras; que havia uma população de esposas naquela casa. Em cima dos móveis, penduradas nas paredes, postas aos cantos em pequenas mísulas, e todas com o mesmo rosto a três quartos, o mesmo penteado, o mesmo olhar para cima. E não só na saleta, também no quarto, na cozinha, no corredor. Também nele próprio, no anel, no alfinete de gravata, suponho que na carteira, nas gavetas, no sótão, na despensa, sei lá onde mais, enquanto ele não deixava de abanar a cabeça, de chorar, não por estar exactamente a fazê-lo, porque desde que fora ferido pelos estilhaços do obus ficara com aquela voz de gaita e os olhos não lhe retinham as lágrimas, eram uma fonte, uma desgraça na sua vida. Depois levantou-se e apoiando-se nas muletas levou-me ao quintal. Aqui, mostrou-me uma campa como as dos cemitérios, com mármore, retrato e cruz em cima, aprendendo eu no Barreiro que entre coisas vivas podiam haver coisas mortas, e um senhorio que embora não tivesse pago o arranjo do telhado ao pai ferroviário tinha no seu quintal uma sepultura inventada e dentro de casa uma esposa multiplicada em centenas."

Virgílio Martinho in "O Relógio de Cuco", pp-77-79, Editorial Estampa, Lx, 1973.


Bibliografia principal:
  • Festa Pública (1958)
  • Orlando em Tríptico e Aventuras (contos) (1961)
  • O Grande Cidadão (romance) (1963)
  • A Caça
  • O Concerto das Buzinas (romance) (1976)
  • Filopópolus (teatro) (1973)
  • Relógio de Cuco (1973)
  • A Sagrada Família (farsa) (1980)
  • O Herói Chegado da Guerra e outros Textos em Teatro (teatro) (1981)
  • O Menino Novo (contos) (1989)
  • 1383 (1976)
  • Rainhas Cláudias ao Domingo (1982)
  • O Grande Cidadão (1975)
  • A Menina, O Gato e o Robot
  • Fernão, sim ou não?
  • O Gelo na Mesa
clicar na imagem para ampliar
(A Regra do Jogo Edições,  col. «Os Olhos Férteis, Porto, 1974=


Homenagem a Virgílio Martinho:

Carlos Alberto Machado, 5 Cervejas para o Virgílio, &etc, Lisboa, 2009.

26/09/2010

Escritores Esquecidos 7


Eduardo Guerra Carneiro (Chaves, 1942 - Lisboa, 2004)



O PÓ NOS PASSEIOS

O pó nos passeios com vagar
se ergue. A luz é mais nítida.
Os corpos se mostram. Em algumas
praias residem dialectos. Turismo
nos marca com ferro diferente
em costumes e fala. Nas ruas se vende
o jornal da estranja. O burro
ainda merca. Alfarroba em bolsa.
O pó nos passeios com vagar
se ergue. A luz ainda é nítida.
Só de certo modo. Só em certas terras.
Turismo na farda. No bolso o desdém.


Eduardo Guerra Carneiro in "Algumas Palavras", p.16, Porto, 1969.


ISTO ANDA TUDO LIGADO
(...)

O feijão cresce no nariz (o quarto das
traseiras, a boneca de louça despedaçada,
a bola amarela, o guarda-chuva da mãe,
os vidros da Escola pintados de branco,
aqui e além um espaço visível, pessoas no
passeio em frente, um enorme domingo
de pasmo sem tempo).

De novo olha o mapa-cor-de-rosa onde es-
creveu anotações a lápis, pensamentos de
ocasião, pequenos insultos. Onde traçou
muitos itinerários - na sua maior parte
banais, fáceis de realizar. De novo abre
o mapa da cidade, suja, cinzenta, ama-
relecida, sem um parque, nem mesmo um
lago, apenas São Lázaro da infância.
E outra cidade (ou a mesma?) com um
ou outro quarto escondido pelas altas ca-
sas, uma rua de domingo, antigos meses
de Outubro numa Coimbra para sempre
ligada a mistérios (mais tarde a har-
monia - sofrosiné em grego).

Seguro, por exemplo, o teu ombro es-
querdo. Podes sorrir e dizer qualquer
coisa: O último eléctrico. Alguns bolos
e um gelado. Desde as onze. Mas, entre
as palavras, há súbitos silêncios, um es-
tranho olhar, um fósforo que se apaga, a
lembrança de uma infância dourada de
palmas e sorrisos - à maneira de Perse.

Onde estás agora? Disseram-me que a
tristeza se instalou nas cadeiras da tua
casa, nos teus móveis de estilo, entre os
lençóis da tua imensa cama. A tua voz
ainda soa por entre os meus livros, em
alguns discos, no fundo de algumas gar-
rafas. Onde estás agora? Disseram-me
que o vento já não afasta os teus cabelos.
Em alguns descampados ficou a recor-
dação da tua magnífica água-de-colónia,
do shampoo que em certas tardes de
Março íamos comprar ao supermercado
perto do Hotel. Lembro o teu corpo como
quem recorda um navio ou um poema de
Camilo Pessanha.

O feijão é já feijoeiro (as traseiras dos
prédios, as escadas de serviço, o que os
meus olhos viram, tesouras, cimento, es-
cadas, tanques de lavar a roupa, antes
a querra - Coreia? China? -, botas, o
jardim da Estrela em 1949, Naná, a So-
nata a Kreutzer, cartas em caixotes, a
grande solidão, Chiado, Camões, o pre-
sépio de madeira).

Continua...

Eduardo Guerra Carneiro in "Isto Anda Tudo Ligado", pp.26-30, Cadernos Peninsulares, 1970.



PREFÁCIO A UMA HOMENAGEM A CESÁRIO VERDE

As clarabóias deste lado da cidade acendem-se mais cedo.
sinal que alguém projecta o fogo sobre o bairro
incendiando casas, talvez certas pessoas, as ruas
mais estreitas junto ao Tejo. Em manhãs como esta o sol
entra na mesa e pára junto às teclas. Parece um sorriso;
diria mesmo uma ternura. Poucos são os Palácios, mas imenso
é o espaço. E as águas, no rio e junto às teclas, acendem-se
com o fogo de outras clarabóias.

Depois são as luzes, as indústrias, o último petroleiro.
Descansam moradores em casas altas
enquanto se ergue a cidade nocturna de bares e liamba
e cresce um ou outro clandestino. É tempo de sair
por entre a névoa; rondar as esquinas; sorrir à puta;
apertar o copo; sentir o suor da cidade, corpo a tremer
de frio e febre neste tempo de amoníaco e éter
com ambulâncias lentas a caminho da morgue.

Antes ainda das luzes, quando, à maneira de Cesário,
o fumo se eleva no espaço, o recorte das fachadas
é mais nítido, o vermelho de Lisboa é mais intenso,
podemos imaginar escadas cansadas da madeira,
fogões acesos nas cozinhas,
crianças já com sono,
etc, etc...

Eduardo Guerra Carneiro in "Como Quem Não Quer A Coisa", pp.29-30, &etc, Lisboa, 1978.


DAMA DE COPAS

Entre ases e manilhas
Duque e terno da sueca
As damas são maravilhas
Quem as tem que as não perca

Diz-lhe lá então ó mesa
Qual o nome de eleição
Eu quero ter a certeza
Da carta em meu coração

Naipe já tu o disseste
E cortar com espadas não
Nem com oiros me fizeste
Nem paus te chegam à mão

São copas, venham mais taças
Vamos pois brindar à dama
Só não quero que o faças
No meio da minha cama

Muito agradecido fico
Pano verde onde joguei
Em dinheiro não sou rico
Mas levo a dama do rei

Tem cuidado com a sorte
Ó jogador afamado
Pode a dama ser a morte
E depois ficas parado

Não te saia pé de cabra
Ó meu cavaleiro andante
Procura a chave que abra
O seu coração de amante

A dama de copas canto
Bem alto os copos erguendo
Cuidado não seja tanto
Que a percas anoitecendo

Dama de copas é amor
Vence a morte em qualquer mesa
Não tenhas medo ou temor
O vinho deu-me a certeza

Eduardo Guerra Carneiro


ÁLCOOL

Os álcoois espalham-se em véu
pelas tuas veias. Julgas de alegria
essa névoa baça: divagas na forma
mas nem memória fica. Assim foi
no caminho de outros tempos, outras
horas. Agora vês a névoa, já sem
álcool, e fixas no espaço a demora
para encontrar na vida outros álcoois.
Mais certos para ti, mais remadores
contra a maré que invade
a história tua. Julgas de alegria
essa vida, feiro juiz de fora,
vulgar tonto. Mas esse álcool
te entontece. Desvenda então a vida - revivida.

No teatro mexes, entre as mesas,
repovoado o palco, com as musa.
Moves cordelinhos, entretelas,
e recusas mexilhão quando
não usas, nem abusas,
da bebida. Farturas de teatro
já te dão as divas - divinas
meninas desse palco. Recusas
o drama, entre actos
que povoam tua vida. Comovida,
a outra repovoava esses espaços
onde os álcoois fortes bem sabiam
à miséria doce que gastavas
- medronho eras.


Continua...

Eduardo Guerra Carneiro in "Contra a Corrente", pp.9-10, &etc, Lisboa, 1988.

OS CAFÉS

Nos café desenham os paisanos, vulgares
senhores de bagaço e genebra, raspando o mármore
entre as folhas do jornal. Morrem os cafés
com seu bilhar, bengaleiro e escarrador. Música
de rédio ainda sintoniza a serradura e os vidros
baços quando chove. Recordo cafés
da província, ou da cidade grande,
destruídos por ímpias criaturas do plástico.
Já não servem cevada ou eduardinho e o açúcar
não vem no açucareiro. Alguns ainda assinam
os jornais, o cobre limpam e pagam
aos paquetes. Autorizam cauteleiros, a caixa
do engraxador, a rapariga das violetas. Violentam
os cafés aqueles da usura, ratos do cimento.

Avesso à militança, são os cafés retrato militante
de algumas senhoras de batina e capa, entornando
no pires o leite do caniche. Alvoraçados os velhos
titilam nas retretes e os tabacos esgotam-se em
___ suspiro.
São cafés com espelhos e amarelas luzes onde o néon
ainda não entrou. Também de padres são feitas
essas lojas; de marçanos, rapazelhos e trapistas.
Desenvolvo teorias sobre os ditos. Em tempo de
___ ditadura
era o café a teia da intriga, o bocejar jacobino,
o guarda-chuva pingando tristes ais. Insisto pois
no rádio e radiador. Quem lembra os pianos?
Carambolas secas já cortavam o fumo dos charutos;
no marcador quinze de partido; na mesa ao fundo,
igual à história antiga, dois jogadores de xadrez
___ ou de gamão.


Eduardo Guerra Carneiro in "Contra a Corrente", pp.23-24, &etc, Lisboa, 1988.



II

Em lamas mergulhas e voltas
ao lodo. Dos lameiros da infância guardas
alguns cheiros e já lamentas não teres
no lodaçal entrado. Sabes ladear
o tanque do mosto e viras cangaço
na esperança de saberes. Não sabes
que crescem raízes na lama? Logo
ligarás o negro fundo: deixa
que o lodo marque essa brancura.
O fogo crepita nas margens da lama
e o que tu lixo julgavas era ouro.
Alambiques demonstram alquimias
fáceis. Vais aprender no escuro
sótão: a ravina esboroa-se nos teus olhos.

É oum bairro de barro. Outros preferem
a palavra adobe. Tijolo, por vezes,
entre zinco ou palha. Liga-se a lama
com restos de excrementos e pintam-se
os homens com vermelhão no rosto.
Não sei se é de guerra ou paz esse sinal
nos labirintos miúdos entre as rugas.
Chuva pesada envolve-te as sandálias
e já pensas regressar a cimento e asfalto.
Uma flor irrompe, outra e outra,
nos cactos sagrados, em vermelho vivo.
Desfazes o encanto da paisagem inventada
antes que os padres cheguem e destruam
o voo do condor - o teu voar.

Pesada é a máscara de argila seca.
Aguentas sofrimento para amanhã
voltares a estas festa. Outros
o fizeram, mais ágeis do que tu
e o estalar do barro abriu-lhes
novos rostos. Feiticeiro: quem é agora o príncipe? A resposta fica
à espera que pássaros se ergam
do topo da pirâmide. Abutres
agucam ensanguentados bicos e os corações
latejam nas mãos do sacerdote.
É a altura de ergueres o copo
e beberes as gotas que te restam.
Arranca a máscara - também és Deus.

Eduardo Guerra Carneiro in "Lixo", pp.15-17, &etc, Lisboa, 1993.

A NOIVA DAS ASTÚRIAS

Misturam-se agora as linhas do bordado
e confessa que o enredo foi difícil.
É fácil dizer assim que o fim é isto.
A dor não passa com tantos álcoois fortes e o desejo
arde e marca-lhe as artérias. Misturam-se
as tardes e as ondas ainda batem nesse muro.
Não é fácil, não, esqueçer não basta. Amor
ele julgava que buscava nas ermidas,
e os outeiros ardiam, desesperados. Misturam-se
as noites e ele resolve-se, sem resolver
a história inacabada. Buscou as pedras
e com barro uniu o frágil coração,
mas tão ardente. O coração ardia e o fogo
continuava. Maldição de outros álcoois,
noutras terras, evocava o príncipe, imperfeito.

Sim: era o princípio de um fim anunciado.
Ela dizia-o de início e ele não sabia
do presente envenenado - tantas noites! Misturam-se
as manhãs nesses poentes e ainda o Cantábrico
batia naquele muro. Sonhava com princesas
e rezava, dessa maneira estranha que sabia.

Não é fácil, não, esquecer não basta. Amor
ainda procura noutros corpos. Mas é ela
que vê, entre suspiros, e o ar que ainda respira
é dessa boca. No mar, além, imaginava
as barcas da aurora. Ora!, ora!, tenta ironizar,
nas barras onde bebe o desamor. Resolve-se
nas insónias, desce aos infernos nas barcas
da cidade. Misturam-se as linhas
do bordado e já se desengana de um regresso.
Traça estas linhas e nem sabe quem escreve,
se ele ou o desgosto que o marcou.
Mas volta ao labirinto que escolheu e sabe
já: é isto uma história projectada, um filme
antigo que ele próprio realizou. Desliga
o fio e a luz se apaga. Calma! Não findou.

Rebobina então do fim para o princípio.
Projecta o filme, que outro já ele é.
Mistura príncipe e princesa e às Astúrias regressa,
do passado. Mas sabe bem que o sonhador
sonhado pode estar além no muro.
É isso: recomeçar do nada, o tal bordado.


Eduardo Guerra Carneiro in "A Noiva das Astúrias", pp.7-9, &etc, Lisboa, 2001.


Bibliografia:


* O Perfil da Estátua (poesia, 1962)
* Corpo Terra (poesia, 1966)
* Algumas Palavras (poesia, 1969)
* Isto Anda Tudo Ligado (poesia, 1970)
* É Assim Que Se Faz a História (poesia, 1973)
* Como Quem Não Quer a Coisa (poesia, 1978)
* Dama de Copas (poesia, 1981)
* Contra a Corrente (poesia, 1988)
* Profissão de Fé (poesia, 1990)
* Lixo (poesia, 1993)
* O Revólver do Repórter (crónicas, 1994)
* Outras Fitas (crónicas, 1999)
* A Noiva das Astúrias (poesia, 2001)


Fotografia dos coordenadores da revista Setentrião (nºs 2 e 3), datada de Julho de 1962, vemos da esquerda para a direita, António Cabral, Carlos Loures, Eduardo Guerra Carneiro e Ascenso Gomes






ANTOLOGIA DA POESIA CONTEMPORANEA DE TRÁS OS MONTES E ALTO DOURO

(composto e impresso na Minerva Trasmontana, Vila Real). In-4.º peq. De 95-VII págs. B.

Poesias de Afonso Costa, Alberto Miranda, Alfredo Margarido, António Borges Coelho, António josé Maldonado, António Cabral, Bento da Cruz, Domingos Monteiro, Edgar Carneiro, Eduardo Guerra-Carneiro, Fausto José, Francisco Cordeiro, Granjo de Matos, J. Gonçalinho de Oliveira, José Barcos, José Magem, Manuel Pinto, Maria Augusta Ribeiro, Miguel Montes, Miguel Torga, Nelson Vilela e Nuno Teixeira Neves. Muito invulgar.

Capa de João Dixo e ilustrações em separado de Nadir Afonso, João Dixo e Nuno Barreto.



POEMAS LIVRES (1962-1968)

Coimbra Editora, lda. E Tipografia do Carvalhido, Porto. 3 números In-4º B.

Colaboração de César Oliveira, Ferreira Guedes, Francisco Delgado, Maragarida Losa, Rui Namorado, António Manuel Lopes Dias, Armando da Silva Carvalho, Fernando Assis Pacheco, Fernando Miguel Bernardes, Luís Guerreiro, Luís Serrano e Manuel Alberto Valente. Daniel Pires no seu "Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX», 2º vol., tomo 1º, fornece uma extensa notícia sobre esta publicação, baseada em depoimentos de Margarida Losa, Ferreira Guedes e César Oliveira.