O meu 1.º amor foi um caramelo
abri-lhe a boca e comi-lhe os dentes
tirei-lhe a pele e chupei-a
dei-lhe palmadinhas
e ele lambeu-me.
Depois amei a caixa de lata
que era azul e vermelha por fora e
dourada por dentro. Via-me nela
como num céu e a luz.
A voz da caixa.
Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.
MÃOS
um mole cedia
macia era aquela pele que agarrava
os pêlos
Madalena no escuro
a melhor
a mais simples
no silêncio na pele agarrava
a minha
a dela
toda
calças
dedos
aplicados
enrolei
a mama toda aberta
os dedos depois
como nuvem
a palma e os dedos
por cima
sem forma
os dedos
um no outro tocando-se
de cima
de mim
redonda
no escuro
na vulva
cedendo
peles escorregando
líquido
largo
sob o dedo encontro
a carne
sentem pelos nós
as unhas
nascentes
minúsculas
chupando o dedo
as nádegas minúsculas
o dedo descaindo
apontado
exterior
Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.
UM DIA
Encimento o tijolo para dentro
ouvindo um pio, no ar cinzento.
Junto ao solo observo ao longe,
o dia em roda.
Álvaro Lapa in Balança, Frenesi, 1985.
BIBLIOGRAFIA INCOMPLETA & sem catálogos:
- Raso Como o Chão, Editorial Estampa, Agosto de 1977.
- Porque Morreu Eanes, Editorial Estampa, Abril de 1978.
- Barulheira, Edições &etc, 1982.
- Balança, Frenesi, Abril de 1985.
- Sequências Narrativas Completas, Assírio & Alvim, Setembro de 1994.