“(…) De um século recente, vou alinhar ao acaso os seguintes nomes: HAYDN, MOZART, BEETHOVEN, GOETHE, SCHUBERT, MENDELSSOHN, WORDSWORTH, COLERIDGE, KEATS, SHELLEY. Agora uma lista de nomes comparável, mas de um século grego: ÉSQUILO, SÓFOCLES, EURÍPEDES, ARISTÓFANES, SÓCRATES, PLATÃO, ISÓCRATES, GÓRGIAS, PROTÁGORAS, XENOFONTE. As idades com que morreram os componentes da primeira lista, são respectivamente: 77, 35, 57, 83, 31, 38, 80, 62, 26, 30; da segunda: 71, 91, 78, pelo menos 60, 70, 87, 98, 95(?), cerca de 70, 76. SHELLEY é claro, morreu afogado; mas ÉSQUILO e EURÍPEDES (provàvelmente) morreram ambos de desastre, SOCRATES foi executado e PROTÁGORAS morreu num naufrágio; os três poetas trágicos estavam em plena actividade e ainda no mais alto esplendor do seu génio quando morreram (o que ninguém afirmaria de WORDSWORTH), e a morte interrompeu PLATÃO quando escrevia «As Leis». Se alguém que se interessa pelo assunto quiser ler a interessante obra de DIÓGENES LAÉRCIO, Vidas dos Filósofos, ficará assombrado com o grau de longevidade geral. É claro que algumas datas são lendárias; ninguém vai acreditar que EMPÉDOCLES viveu de facto até aos 150 anos; mas, de qualquer maneira, trata-se de uma figura que não chega a ser histórica. Não há razão nenhuma para duvidar da exactidão de muitos dos números apontados. Está demonstrado que a Grécia favorecia não só uma longa vida, mas também uma vigorosa energia. Ao lado de SÓFOCLES, a escrever o seu magnífico «Édipo em Colono» aos 90 anos, podemos colocar a figura de AGESILAU, rei de Esparta, que não se limitava a comandar, ia ele próprio combater para o campo de batalha, com 80 anos. O vigor em idades avançadas parece ter sido mais alto na Grécia do que em qualquer país moderno, pelo menos até há bem pouco tempo.”
H. D. F. Kitto, “Os Gregos”, pp. 56-57, Arménio Amado Editora, Coimbra, 1990.