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13/04/2013

Do José Apolinário Ramos mestre tipógrafo e poeta...





QUEM SOU?

Quando penso que sou o que não sou,
quando penso que fui o que não era,
é que sinto não estar ainda onde estou.
E não estar, meu Deus, oh!, quem pudera.

Mas só tu e eu sabemos quem muito amou,
o que terei sido em perdida angra;
talvez santo ou diabo que um dia estoirou
esta alma sem corpo que hoje soluça e sangra.

Serei o que não fui, nem sei o que quis ser,
talvez gnomo ou bruxo com bola de cristal,
e a bola deu-me a morte, na ânsia de viver,
enterrado no lodo que há entre o bem e o mal.

p.19



Enche de Espasmo e luar
a tua garganta de oiro
e canta a dor de se dar;
que a mais linda melopeia
está nos cornos do toiro
com patas de lua cheia.

p.48

José Apolinário Ramos, “Aquário – poemas (1968-1973)”, Composto e Impresso na Tipografia Ideal,  Lisboa, em Novembro 1975.


1

Gritos negros, noite morta;
ladram os cães ao luar.
Nossa tortura suporta,
as fúrias da noite morta,
nas litanias do mar.

p.18


2.

Dá-me os teus olhos mulher,
(se forem verdes melhor),
quero senti-los morder,
a raiva do amanhecer,
em bebedeiras de amor.

Dá-me os teus olhos salgados,
feitos de estrelas do mar;
quero oferecê-los, bailados,
aos búzios enluarados,
plas chamas do teu olhar.

p.23

José Apolinário Ramos, “Encostado à Solidão – poemas”, Tipografia Ideal, Lisboa, 1966.