27/06/2020

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"PAPOS E MILONGAS

DIZIA UM
Meu lunfa, lalau azarado está aqui. Fiz um otário com cinco giripócas, dois enforcados e um abobrão; depois mandei a chuca de uma coroa, que só tinha uns picholés, mas um James Bond estava na minha cola e, quando eu quis fazer o esquinaço, fui guindado. O tiruncho me tacou o bracelete e eu fui falar com o majurengo. Positão. Entrei no flagra. O papa-gente, na metralhadora, era uma coisa.
Resultado: Águas de Carandiru, meu irmão da ôpa.

DIZIA O OUTRO
Tu és um vagau pé de chinelo. O bonzão aqui, só mete a mão em combuca, por um pororó leguete; nem sou do espianto, nem do escruncho, nem do atraque. Meu negócio é tomar na maciota. Sou vigário linha da frente, meu chapa.
Os estácios entram na minha, fácil, fácil. O meu pla é gostoso. E até hoje não caí do cavalo.
Manja essa. Larguei o violino na mão do judeu do brexó, que me passou às mães, um arame firme; depois deixei a guitarra com o portuga do buraco quente, que abonou o papai com mil cruzeirão.
Como tu vê, tou largando a minha brasa, na praça, e não vou entrar, caindo do burro.
Para mim, na tiragem só dá ôlho de vidro.

E O OUTRO
Pois eu, meu chaporeba, sou da marijuana. Fatura horrores ali no lixão. Numa só pavuna eu marreto vários pacáus, e cada fininho vale um Santos Dumont. Os tiras estão sempre de olofotes, mas o vivaldino tem vagólio na campana.
Até hoje, só puxei uma, na casa do cão. Foi quando a Excelência me tacou três anos de galera e dois de medida.
Mas agora estou na libertina e o negócio é levantar uma nota traficando a xibaba e, se os cherloques meterem uma escama em cima, tá na cara; um vai amanhecer com a bôca cheia de formiga.
Morou?
Ziriguidum pra você.

O OUTRO AINDA
Estás por fora, ó ligação. Vou salivar. Cruzei com uma mina e quase entrei de gaiato.
Apanhei meu pé de borracha e fui sassaricar pela aí. Tirei linha com uma ragaza e ela gamou na hora. Se mandamos pro esquisito. O hotel das estrêlas tava legal às pampas. Bitoca vai, bitoca vem, tu já se mancou, né? Mas na hora da onça beber água, lá se vem os mega de cara comprida. Positório. Partimos pruma candonga, que não foi bolinho, não. No meio da confusa a muxaxa deu o pirolito e o vagolino aqui, teve de se rebolar, porque os cavaleiros da meganha entraram firmes de rabo de galo.
A dança de rato engrossou. Dei uma na tampa do milico, que o escamoso ainda está rodando; depois me arranquei no caranguejo e recebi uma chuva de azeitonas quentes; quase me queimaram as antenas.
Meu liga, enfrentar a raça não é mole, não.

DEPOIS O OUTRO
Vê se te manca, ó migué. Pra mim êsse papo é furado. Se quiseres um papo firme, mora na minha: Eu já puxei um môfo. Já fui, várias vezes cidadão Carandiru. Nunca fui da moleza. Meu negócio era tomar na marra, e nunca dei arrêglo a tira ravêsso. Já topei cada dança de rato de fechar o tempo. Arribite estourou na minha telha que nem pipocas no tacho. Quase me vestiram o camisolão.
Mas hoje tou no cachimbo da paz. Tou limpo com os homens. Dou um duro lavando cavalo cego, pra dar uma papa de bom pra minha cachanga e os cagasebo.
Larguei mão de ser vago-mestre. Pendurei as chuteiras."

Felisbelo da Silva, "Dicionário de Gíria dos Marginais". Editora Prelúdio, São Paulo, s/d.

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