Coimbra,
18 de Maio de 1945 –
Não há palavras para deixar
testemunho de certas dores e certas humilhações. Por mais que se
imagine, não se pode fazer ideia do que seria a vergonha dos filhos
de certas épocas, ofendidos na dignidade de homens e cidadãos.
Quando o futuro quiser saber o que se passou neste tempo, a História
há-de dizer coisas de arrepiar os cabelos. Matanças, campos de
concentração, o espesinhamento metódico de tudo quanto era limpo e
tinha uma significação luminosa. Mas nada disto dará uma pálida
ideia do que foi a tragédia de viver agora. Um escarro na cara não
tem expressão. Sente-se.
Miguel Torga, “Diário
III”, pág. 96, 1954, Coimbra.
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