“Coimbra,
15 de Janeiro de 1950 –Dizem os jornais que na Alemanha um
inventor conseguiu fazer voar as pessoas no vácuo. Uma espécie de
centrifugador ergue-as do chão, e elas flutuam. Ora a literatura de
há vinte anos a esta parte lembra-me um aparelho desses. De Proust
para cá, é sempre a perder o pé na terra. Podem eles falar em nome
do telúrico e do humano. Deixá-lo! Podem escrever palavrões e
descrever cenas sexuais com toda a pornografia. Deixá-lo! Os livros
não têm força, nem verdade.
Em medicina, o órgão que se sente é um órgão doente. E estes
escritores sentem demais o pénis. É um péssimo sinal.”
Miguel
Torga, “Diário V”
2ª ed. Revista, pág. 69, Coimbra Editora, 1955.
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