“Tive
de regressar a França. Deveres imperiosos de família chamavam-me.
Adeus,
terra hospitaleira, terra deliciosa, pátria de liberdade e de
beleza! Parto com mais dois anos, rejuvenescido vinte, mais bárbaro
também do que à chegada e no entanto mais culto. Sim, os selvagens
ensinaram-me muitas coisas, aqueles ignorantes, sobre a ciência de
viver e a arte de ser feliz.
Quando
deixei o cais, no momento de me fazer ao mar, olhei para Teura pela
última vez. Tinha chorado durante várias noites. Agora, cansada e
sempre triste mas calma, estava sentada sobre a pedra, com as pernas
balouçando, tocando na água salgada com os seus pés grandes e
sólidos. A flor que antes trazia atrás da orelha tinha-lhe caído
sobre os joelhos, murcha.
Espaçadas,
outras como ela olhavam, fatigadas, mudas, sem pensamentos, o pesado
fumo do navio que nos levava a todos, amantes de um dia. E a ponte do
navio, com os binóculos, durante muito tempo pareceu-nos ler nos
seus lábios este velho discurso maori:
«Vós,
brisas ligeiras do sul e do leste, que vos juntais para brincar e
acariciar os meus cabelos, corram depressa para outra ilha: aí
encontrareis aquele que me abandonou, sentado à sombra da sua árvore
favorita. Digam-lhe que me viram chorar.»
PAUL
GAUGUIN
1898”
Paul
Gauguin,
“Noa-Noa – Estada em Taiti”, pp. 115-116, Publicações
Europa-América, 1998. Trad. Jacqueline Medeiros.
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